São Paulo, segunda-feira, 21 de junho de 2010

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Ousando discutir a mulher na ciência

JOHN TIERNEY
ENSAIO

Em 2005, Lawrence Summers, então reitor da Universidade Harvard, fez um discurso diante de outros economistas e pesquisadores no qual sugeria uma hipótese controversa sobre as diferenças entre os sexos na aptidão para a matemática e a ciência.
A hipótese de Summers foi caricaturada como uma retomada da ideia de que "meninas não conseguem aprender matemática". Mas não foi isso que Summers disse. Ele reconheceu que havia muitas mulheres talentosas na ciência e estava discutindo como eliminar as barreiras que elas enfrentavam.
No entanto, mesmo que todos esses fatores sociais fossem excluídos, ele arrazoou, a composição do corpo docente de ciências em uma escola de elite como Harvard poderia continuar a ser influenciada por um fator biológico: a maior variabilidade nos resultados de teste de inteligência e diversos outros fatores.
Homens e mulheres podem, em média, ter capacidade matemática igual, mas o número de homens com resultados muito elevados ou muito baixos continuaria a ser desproporcional.
Um físico que seja professor titular de uma grande universidade, sugeriu Summers, talvez requeresse capacidades e traços existentes em apenas 1 entre 10 mil pessoas: o 0,01% superior da população, grupo minúsculo que presumivelmente incluiria maior número de homens porque se localiza no extremo direito da curva de distribuição.
Summers foi ridicularizado. Críticos alegaram que sua hipótese fora negada por recentes informações sobre uma redução na disparidade dos resultados matemáticos entre meninos e meninas nos EUA e outros países.
Mas, mesmo que essas informações (que não são aceitas unanimemente) sejam precisas, elas envolvem apenas uma redução na disparidade dos resultados matemáticos médios, e não nos resultados extremos que Summers discutia.
Além disso, os testes padronizados em questão não são difíceis o suficiente para realizar distinções finas entre os estudantes mais brilhantes -são limitados pelo chamado "efeito-teto": se uma sala com teto de 2 m de altura é usada para medir a estatura das pessoas, é impossível distinguir entre aquelas cuja estatura seja superior a 2 m.
Agora, uma equipe de psicólogos da Universidade Duke, na Califórnia, tem observado os resultados de testes nos quais o teto é mais alto. Eles analisam os resultados de estudantes norte-americanos que realizaram testes de admissão universitária quando ainda estavam na sétima série. Os testes SAT e ATC foram aplicados a mais de 1,6 milhão de alunos talentosos de sétima série do país, com participação semelhante de meninos e meninas.
Os pesquisadores focaram o extremo direito da curva de distribuição: pessoas classificadas no 0,01% mais elevado da população geral, o que, para um aluno de sétima série, significa mais de 700 pontos na prova de matemática do SAT.
Nos anos 80, esse grupo incluía 13 meninos para cada menina, mas, em 1991, a disparidade entre os sexos se havia reduzido a 4 para 1, devido a fatores socioculturais como estímulo e instrução especial em matemática a meninas.
No entanto, depois disso, a disparidade entre os sexos não se reduziu mais, a despeito de programas para encorajar as meninas. A relação entre meninos e meninas também se manteve constante, em torno de 3 para 1, no extremo direito da curva para os testes de matemática e raciocínio científico do ACT. Entre os 19 estudantes que tiveram a nota máxima no ACT de ciência nos últimos 20 anos, 18 eram meninos.
Pesquisadores dizem não poder prever por quanto tempo persistirá essa disparidade entre os sexos. Mas, dada a estabilidade que existe há duas décadas, eles concluem que a diferença de capacidade entre os sexos no extremo direito da curva de distribuição não pode ser descartada como causa da escassez de mulheres nas disciplinas que requerem muita matemática.


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