São Paulo, segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

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Mercado de partes de tigres alimenta matança

Por ANDREW JACOBS

GUILIN, China - O popular Ano do Tigre, que começou no último dia 14, poderá ser péssimo para os estimados 3.200 tigres que ainda vagam pelas florestas cada vez menores do mundo.
Com apenas 20 espécimes em liberdade na China, os tigres do país estão a poucos tiros da extinção, e na Índia caçadores ilegais abatem rapidamente a maior população de tigres do mundo. O número atual, cerca de 1.400, é aproximadamente a metade do de dez anos atrás e uma fração dos 100 mil que viviam no subcontinente no início do século 20.
A redução do habitat continua sendo um grande desafio, mas os conservacionistas dizem que a principal ameaça para o maior predador da Ásia é o apetite chinês por partes de tigres. Apesar da proibição oficial ao comércio desde 1993, existe um mercado robusto de ossos de tigre, tradicionalmente valorizados por suas qualidades curativas e afrodisíacas, e também de peles.
Com as peles sendo vendidas por US$ 20 mil e cada pata valendo até US$ 1.000, o valor de um tigre morto nunca foi tão alto, dizem os que investigam o comércio. No mês passado, o governo indiano anunciou um aumento nas mortes de tigres por caçadores ilegais, com 88 encontrados mortos em 2009, o dobro do ano anterior.
Como os números se baseiam em carcaças encontradas em reservas ou em partes de tigres apreendidas em pontos da fronteira, os conservacionistas dizem que o número verdadeiro é muito maior.
"Toda a demanda por partes de tigres vem da China", disse Belinda Wright, diretora-executiva da Sociedade para Proteção da Vida Selvagem na Índia. "A menos que os chineses mudem de atitude, o tigre não tem futuro."
Embora os conservacionistas digam que a Índia precisa fazer um melhor trabalho de policiamento em suas 37 reservas de tigres, eles insistem em que o governo chinês não se esforçou para reprimir o mercado doméstico de partes ilícitas.
As iniciativas antitráfico são aleatórias, dizem os especialistas; a China proíbe o uso de partes de tigres na medicina tradicional chinesa, mas faz vista grossa para a venda de tônicos para a saúde com base em álcool de arroz e ossos de tigre.
É uma área cinzenta que tem sido explorada por fazendas de tigres chinesas, que criam milhares de animais com uma eficiência de linha de montagem.
Se há algum mistério sobre o que ocorre com os grandes felinos na Aldeia de Tigres e Ursos de Montanha Xiongsen, em Guilin, isso é parcialmente explicado na loja de presentes, onde garrafas em forma de tigre contêm "vinho fortificante para os ossos".
A bebida, que custa US$ 132, é vendida abertamente em toda a região de Guangxi e além dela.
"Isto é uma maravilha", disse Zhang Hanchu, dono de uma loja de bebidas em Guilin. Uma dose diária da poção, segundo ele, pode reduzir a rigidez das articulações, tratar reumatismo e aumentar o vigor sexual. Com a aproximação do Ano do Tigre a demanda aumentou, ele disse.
Aberta em 1993 com financiamento estatal, Xiongsen é a maior operação de criação de tigres da China. Alguns de seus 1.500 animais vagam livremente em áreas cercadas, enquanto muitos outros são amontoados em pequenas jaulas, onde se movem agitadamente.
Antes de uma série de notícias negativas na imprensa dois anos atrás, Xiongsen oferecia orgulhosamente em seu restaurante bifes de tigre, como "a carne do grande rei". Hoje, a palavra "tigre" não aparece mais na embalagem do vinho -usa-se "ossos de animais raros"-, mas os vendedores dizem que o principal ingrediente ainda é osso de tigre.
Além de aceitar a venda do vinho, o governo chinês alimentou o mercado de partes do animal ao permitir a existência dessas fazendas, dizem os críticos. Apesar de a Administração Florestal ter reiterado seu apoio à proibição do comércio de tigres em dezembro passado, ela reconsidera as restrições a cada ano.
Debbie Banks, que dirige a campanha pelos tigres na Agência de Pesquisa Ambiental em Londres, disse que a decisão da China de ajudar a pôr fim ao comércio internacional de tigres foi diluída por sua posição ambivalente em relação às vendas internas.
"O governo está estimulando e perpetuando a demanda, que é o verdadeiro problema que enfrentamos", ela disse.


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