São Paulo, segunda-feira, 22 de junho de 2009

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TENDÊNCIAS MUNDIAIS

Com canções provocativas, rapper imigrante enfrenta a extrema direita suíça

Por MICHAEL KIMMELMAN

ZURIQUE - Uma guerra cultural vem sendo travada na Suíça, passando por cima das floreiras de gerânios e das lojas que vendem relógios por US$ 10 mil.
O mais importante rapper do país, Stress, lançou um álbum novo, "Kings, Pawns and Bishops" (Reis, peões e bispos). Depois de provocar um pequeno escândalo, há alguns anos, com uma canção cujo título trazia um palavrão antes do nome de Christoph Blocher, líder do ultranacionalista Partido do Povo Suíço (SVP) -partido político mais popular do país-, Stress voltou com novidades em tom semelhante.
Imigrante da Estônia (seu nome real é Andres Andrekson), Stress, 30, foi criado por sua mãe em Lausanne e é casado com uma ex-Miss Suíça. Seu último álbum foi dupla platina. Em um país de 7,6 milhões de habitantes divididos culturalmente entre os de idioma alemão, francês e italiano, isso significa que foram vendidas mais de 85 mil cópias do álbum.
Grande empresário da indústria química, Blocher, ele próprio descendente de imigrantes da Suábia, na Alemanha, foi até o final de 2007 o ministro da Justiça da Suíça. Tem 68 anos e chegou ao poder como líder do Partido do Povo Suíço, demonizando imigrantes (num país onde 20% da população é formada por estrangeiros, em sua maioria europeus ocidentais), criticando a União Europeia, promovendo a privatização, reduzindo impostos e defendendo valores tradicionais.
O programa encontrou eco junto aos eleitores ricos e da zona rural. Na última eleição, o Partido do Povo Suíço conquistou 29% dos votos, porcentagem mais alta de qualquer partido e entre as mais altas já obtidas por qualquer legenda de extrema direita na Europa ocidental.
A cultura exerceu um papel em tudo isso. Blocher usou sua coleção própria de obras de pintores do século 19, como Albert Anker e Ferdinand Hodler, em exposições que organizou para ilustrar o que, segundo ele, representam ideais suíços saudáveis: mulheres no lar, fazendeiros tirando leite de vacas, uma nação historicamente separada do estrangeiro por mais do que apenas suas montanhas.
Stress escreveu sua letra sobre Blocher depois que o SVP ajudou a derrotar um referendo de 2004 que teria facilitado a obtenção de passaportes suíços pelos filhos e netos de imigrantes. "Não há palavrões na canção", o rapper fez questão de observar. Partidários de Blocher acusaram o músico de causar polêmica para vender discos, o que de fato aconteceu. "Na realidade, a canção queria dizer aos jovens, depois da derrota do referendo, que não devemos pensar que não podemos fazer a diferença", disse Stress. "O referendo foi derrotado porque os jovens não votaram."
Blocher recusou um pedido de entrevista. Rejeitando o princípio governador suíço de colegialidade e consenso quando foi ministro da Justiça, foi expulso do conselho federal por outros parlamentares, sendo substituído por outro membro de seu próprio partido. Mesmo assim, sua plataforma de intransigência com a criminalidade, contra os imigrantes e de defesa dos valores tradicionais é popular.
No novo álbum de Stress, na faixa "The Fear of the Other" (O medo do outro), o rapper indaga: "Por que deixamos que políticos manipulem nossos medos?".
Ele começou em alemão uma canção em seu álbum anterior, "Renaissance", fazendo de conta que estava ligando para a sede do partido de Blocher e pedindo para falar com o ex-ministro. Em seguida, passou para o francês: "Minha Suíça enxerga seu futuro no multiculturalismo / Minha Suíça não vê mesquitas e minaretes como ameaça / Minha Suíça é aberta, pró-europeia / E não cria problemas para dar cidadania a estrangeiros."


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