São Paulo, segunda-feira, 22 de junho de 2009

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DINHEIRO E NEGÓCIOS

Crise econômica coloca União Europeia contra seus membros

Por STEVEN ERLANGER

BERLIM - A crise econômica global deixou claro que a Europa continua sendo menos que a soma de suas partes. A crise apresentou à União Europeia seu maior desafio, mas até muitos europeístas dedicados acreditam que a aliança está falhando no teste.
Os líderes europeus, concentrados na política interna, discordam acentuadamente sobre o que fazer para combater a recessão. Eles discutem até onde devem estimular a economia, se o Banco Central Europeu deve se preocupar mais com a profunda recessão ou com a futura inflação. E eles correram para proteger os empregos em seus mercados domésticos às custas dos de outros países-membros.
As últimas eleições parlamentares europeias, em 7 de junho, ilustraram bem a questão. Somente 43% dos europeus votaram -um recorde de baixo comparecimento, apesar da crise econômica e da votação compulsória em alguns países. Os partidos de extrema direita, opostos à União Europeia e aos imigrantes de países-membros mais pobres, registraram ganhos, assim como os verdes. Os que foram votar tiveram como principal motivação questões nacionais.
Apesar de a crise das hipotecas subprime ter começado nos EUA, a Europa já está possivelmente sofrendo mais. O Fundo Monetário Internacional estima que os bancos europeus detenham mais ativos ruins que os americanos e os descontaram muito menos. Os déficits orçamentários estão aumentando, e o desemprego, especialmente entre os jovens, já atinge seu nível mais alto em dez anos.
Com a reação hesitante de uma União Europeia fraturada, muitos economistas esperam que a recessão dure mais no continente do que nos EUA. "Estamos em um momento de crise muito grave", disse Joschka Fischer, membro do Partido Verde e ex-ministro das Relações Exteriores da Alemanha. "Temos uma ausência de liderança traumática; fomos apanhados no meio da correnteza."
Na fábrica de pneus Goodyear Dunlop em Amiens, norte da França, Thierry Fagot, 36, vai perder o emprego que teve durante 13 anos. Ele vê a concorrência interna na UE como parte do motivo. "Sinto que fui enganado. Quer dizer, criamos a Europa para nos proteger, e durante muito tempo funcionou", ele disse, explicando que a UE forneceu um mercado para os pneus da fábrica e estabeleceu medidas de segurança. "Hoje, com a concorrência dos países do Leste, sinto que a Europa criou uma situação em que estamos perdendo os empregos para outro país da UE. Como isso pode ser pelo bem maior?"
Joschka Fischer é um europeu que lamenta a indiferença da "geração pós-89" (ano da queda do Muro de Berlim) pelos ideais de um destino europeu, e o retrocesso, sob a pressão da crise, para objetivos e retórica nacionalistas. "As crises sempre são momentos de verdade porque expõem impiedosamente as forças e as fraquezas de todos os atores envolvidos", disse Fischer, criticando particularmente a visão estreita e nacionalista do governo alemão.
Os líderes europeus estão se concentrando na aprovação do muito adiado Tratado de Lisboa, para criar um presidente e um premiê europeus e simplificar a tomada de decisões. Mas o tratado tem pouco a dizer sobre questões econômicas.
Há tensões evidentes no modo como os países agiram para socorrer seus bancos e salvar fábricas nacionais de companhias de automóveis globais, quando uma política europeia mais ampla teria sido mais lógica. Elas também são visíveis entre a Europa setentrional e a meridional, com países mais responsáveis do ponto de vista fiscal, como a Alemanha, prometendo com relutância ajudar as economias que fraquejam, como as da Espanha ou da Grécia.
A solidariedade, que deveria ser o maior princípio da União Europeia, está falhando também nas linhas leste-oeste, com os países que usam o euro relutando em ameaçar a estabilidade da moeda ao socorrer membros de fora da chamada zona do euro, como Bulgária e Romênia.
Ainda assim, os trabalhadores da Romênia se consolam por fazer parte de um bloco maior e mais rico do que o antigo soviético. Em geral eles culpam os líderes locais por seus problemas.
Cristina Lincu, 32, encontrou trabalho na Espanha em 2001. Hoje está de volta a seu país com o marido e um bebê. Quanto à UE, ela é grata. "É uma maravilha terem nos aceitado [no bloco]", ela disse, rindo. "Aqui [na Romênia] temos um enorme problema de corrupção."


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