São Paulo, segunda-feira, 22 de junho de 2009

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DINHEIRO E NEGÓCIOS

Ecovila no deserto não consegue sair do papel

Por LANDON THOMAS Jr.

ABU DHABI - O boom imobiliário no Oriente Médio produziu uma grande parcela de criadores de sonhos e negociantes, cujas atitudes ousadas acabaram superando as mansões e torres que prometeram construir.
Poucos, porém, causaram tanto impacto quanto o xeque Suleiman al Fahim, personalidade da televisão de Abu Dhabi cujo estilo de vida vistoso e cujos investimentos na primeira divisão do futebol britânico eclipsaram seu trabalho como empreiteiro.
Hoje, enquanto ele se prepara para concluir seu maior negócio -a compra do time de futebol britânico Plymouth-, Fahim se encontra no meio de uma polêmica sobre constantes atrasos em um de seus projetos imobiliários, a Hydra Village.
Iniciada em 2007, quando os preços das propriedades estavam no auge, a Hydra Village prometia transformar um trecho do deserto perto de Abu Dhabi em uma luxuriante aldeia ecológica, com lagos, piscinas e 2.500 mansões. Estaria pronta no fim deste ano; agora, Fahim diz que o projeto estará terminado em 2011.
Mas, com as obras mal iniciadas, os investidores da Hydra Village, a maioria deles estrangeiros nesse emirado rico em petróleo, começaram a exigir que Fahim prove que tem fundos adequados para seguir seu projeto. O protesto tornou-se um embaraço público para a família Nahyan, que governa os Emirados Árabes Unidos e não gosta de publicidade.
Quer esteja se exibindo com a atriz americana Pamela Anderson ou com seu carro Lamborghini, Fahim parece uma anomalia em sua cidade-Estado cautelosa e ligeiramente caipira.
E embora Fahim, 32, tenha laços profundos com a família dominante, alguns especialistas se perguntam por quanto tempo ela irá tolerar seus modos exagerados. "A família governante precisa projetar uma imagem de cautela e conservadorismo -al Fahim é mais um símbolo de uma era passada de excessos", disse Christopher Davidson, professor na Universidade Durham, no Reino Unido, e autor do livro ainda inédito "Abu Dhabi: Oil and Beyond" (Abu Dhabi: petróleo e mais). "Ele foi uma fachada chamativa para o dinheiro deles, mas não sei se vai durar muito."
Ahmed Khalil, executivo da Hydra, disse que "a Hydra está no caminho certo sob a liderança do dr. al Fahim".
No website da empresa, Fahim descreve uma visão que inclui grandes projetos em Líbia, México e Paquistão -nenhum dos quais está perto da conclusão-, além de propostas de empreendimentos em Abu Dhabi e Dubai. Mas talvez nem tudo seja como anunciado.
A área da obra revela os primórdios de cerca de 50 das planejadas 2.500 mansões e, fora isso, nada além de deserto. Enquanto outros grandes projetos em Abu Dhabi foram adiados, estão mais avançados que a Hydra Village e outros projetos de Fahim.
Segundo uma planilha interna da Hydra vista pelo "New York Times", a empresa está em dificuldades para receber pagamentos de seus clientes. O documento lista mais de mil investidores que estão atrasados em suas dívidas -totalizando mais de US$ 65 milhões.
A professora britânica Anne Birks ficou tão maravilhada com a visão de Fahim que lhe enviou um cheque de US$ 45 mil -sem assinar contrato- para reservar uma villa à beira de um lago na Hydra Village, para sua aposentadoria. Hoje, além do atraso, Birks disse que lhe informaram que não haverá lago.
"Queria muito terminar meus dias ali", ela disse. "Tive boa-fé -só não me ocorreu que uma empresa patrocinada pela família real pudesse acabar assim."


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