São Paulo, segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

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Lente

A busca pela cura

O presidente eleito dos EUA, Barack Obama, recentemente disse aos americanos algo que a maioria já sabia: "Ano após ano, nossos líderes oferecem planos detalhados para a saúde, com muitas promessas e fanfarronice, só para vê-los fracassar". Isso, declarou numa entrevista coletiva, "simplesmente não pode continuar".
Mas o que exatamente Obama pode ou deve fazer com a saúde? Uma olhada pelo mundo mostra que os EUA estão longe de serem o único país às voltas com a questão.
No Reino Unido, relatou Gardiner Harris no "New York Times", uma comissão que estabelece limites para os gastos médicos está sob duras críticas. O Instituto Nacional para a Excelência Sanitária e Clínica (Nice, na sigla em inglês) recusou-se a adquirir uma nova droga da Pfizer contra o câncer, a US$ 54 mil por paciente, simplesmente porque achou cara demais.
Os pacientes protestaram, o que não impediu outros países de verem no Reino Unido um modelo de contenção de custos. Andreas Seiter, especialista-sênior em saúde do Banco Mundial, disse a Harris que "todos os países de média renda - no Leste Europeu, nas Américas Central e do Sul, no Oriente Médio e em toda a Ásia - estão cientes do Nice e pensam em criar algo similar".
Isso pode incluir a China, onde a precariedade do sistema de saúde está agravando os efeitos da crise econômica. Famílias deixam de consumir porque guardam dinheiro para se proteger do espectro de despesas médicas catastróficas. "A saúde é tão cara e distorcida que, não importa o quanto se poupe, você vai acabar pobre se ficar doente", disse Wang Tao, analista da USB Securities em Pequim, a Andrew Jacobs, do "New York Times".
Mas, em contraste com a China, outro Estado comunista surge como o supra-sumo do sistema nacional de saúde que funciona. Cuba -apesar da economia estagnada e das liberdades individuais limitadas- tem um sistema de saúde que garante aos seus cidadãos expectativas de vida equiparáveis às dos EUA. O país caribenho também dá treinamento gratuito a médicos de outros países e assim exporta suas idéias sobre o sistema de saúde.
O americano Pasha Jackson, 26, aluno da Escola Latino-Americana de Medicina, em Cuba, disse: "Eu me sinto mais valorizado aqui do que onde eu cresci. E, quando eu concluir [o curso], vou voltar para a minha comunidade e levar essa mesma filosofia".
Se o fizer, deve encontrar necessidades ainda mais prementes do que quando partiu, pois muitos americanos nesta recessão estão perdendo, junto com os empregos, seus planos de saúde empresariais.
Em Ashland (Ohio), Janet Esbenshade contou ao "New York Times" que não vai comprar presente de Natal para as duas filhas porque foi demitida de uma fábrica local. As meninas, de seis e dez anos, têm asma.
Esbenshade relatou sua conversa com elas: "Prefiro que vocês fiquem fora do hospital e tomem o remédio em vez de eu comprar um brinquedinho para vocês, porque acho que a saúde é mais importante".
Apesar de todas as promessas de Obama de que vai proteger gente como Esbenshade, Jonathan Oberlander, professor de políticas de saúde na Universidade da Carolina do Norte, tem suas dúvidas. "A história da reforma da saúde está repleta de casos de reformistas achando que desta vez ela é inevitável", disse ele a Kevin Sack, do "New York Times". "Todos esses marcos anteriores se revelaram miragens."

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