São Paulo, segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

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Aprendendo a valorizar o toque

NATALIE ANGIER
ENSAIO

O tato é a mãe de todos os sentidos -tão delicado que a ponta de um dedo é capaz de detectar uma saliência do tamanho de uma célula bacteriana. É um sentido evolutivamente antigo: até os mais simples organismos unicelulares sentem quando algo os aperta e reagem se encolhendo ou se afastando. É o primeiro sentido que surge durante a gestação e o último que some quando a vida se encerra.
"O tato é tão central para o que somos, para a sensação de sermos nós mesmos, que quase não conseguimos nos imaginar sem ele", disse Chris Dijkerman, neuropsicólogo do Instituto Helmholtz, da Universidade de Utrecht (Holanda). "Não é como a visão, em que você fecha os olhos e não vê nada. Não dá para fazer isso com o tato. Ele está sempre lá."
Durante muito tempo negligenciado em comparação aos estudos da visão e da audição, o tato ultimamente vem recebendo mais atenção dos neurocientistas, alguns dos quais passaram a se referir a esse campo de pesquisas como "háptica" (da palavra grega para o tato).
Para tentar entender o funcionamento da mente, os especialistas exploram as implicações de ilusões táteis recentemente relatadas, como as de pessoas que sentem ter três braços. Outros buscam aplicações mais práticas, como na criação de telas sensíveis ao toque ou de robôs com mãos.
"Há bastante pesquisa sobre novas formas de descarregar informação sobre o nosso tato", disse Lynette Jones, do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT). "Deixar o celular vibrar em vez de tocar já demonstrou ser muito vantajoso em algumas situações, e a questão é onde mais os sinais vibrotáteis podem ser aplicados."
O tato é o nosso sentido mais ativo. Susan Lederman, professora de psicologia na Universidade Queen’s, no Canadá, lembrou que, usando a audição e a visão, podemos perceber algo à distância e sem muito empenho, enquanto temos de nos mexer se quisermos conhecer uma coisa de forma tátil. Precisamos esfregar o tecido com as mãos, afagar o gato. "O contato é uma rua de mão dupla, e isso não vale para a visão ou a audição", disse Lederman. "Se você pega um objeto macio e o aperta, muda o seu formato. O mundo físico reage."
Enquanto os receptores para visão, olfato, paladar e audição estão agrupados na cabeça, os receptores do tato estão espalhados pela pele e pelos tecidos musculares e precisam transmitir seus sinais por meio da coluna vertebral.
Nossas mãos são brilhantes e podem fazer muitas tarefas automaticamente -abotoar uma camisa, colocar uma chave na fechadura, tocar piano. Lederman e seus colegas demonstraram que pessoas vendadas são capazes de reconhecer facilmente muitíssimos objetos comuns colocados em suas mãos. Mas, em algumas tarefas, o tato tem limites. Quando as pessoas recebem um desenho em relevo de um objeto comum, elas se confundem.
"Se só temos a informação do contorno, sem nenhum peso, nenhuma textura, nenhuma informação térmica -bem, aí nós nos somos péssimos", disse Lederman.


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