São Paulo, segunda-feira, 23 de maio de 2011

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'Renascida', Bogotá dá alguns passos atrás

Crime e corrupção escandalizam colombianos

Por SIMON ROMERO
BOGOTÁ, Colômbia - Esta cidade se tornou na última década uma Meca dos urbanistas. Prefeitos criativos motivaram um notável renascimento da capital colombiana ao adotarem medidas como a criação de um sistema de transporte rápido e com poucas emissões de poluentes ou a contratação de mímicos com o objetivo de humilhar motoristas infratores em cruzamentos.
Mas os feitos que renderam aplausos a Bogotá mundo afora agora vêm sendo ofuscados pela indignação dos cidadãos. Tantas obras ambiciosas foram postas em construção ao mesmo tempo que o trânsito da cidade está caótico há vários meses. E um prolongado escândalo de corrupção resultou no afastamento por três meses, a partir de 2 de maio, do prefeito Samuel Moreno.
Grande parte da ira popular tem como foco a deterioração da rede de ônibus TransMilenio, um sistema outrora considerado vanguardista, feito para parecer um metrô de superfície. O TransMilenio foi, até certo ponto, vítima de sua própria popularidade: ele está assolado por longas filas, pela superlotação e por atrasos na construção de novas linhas. Também virou cenário de assaltos e protestos violentos. Óscar Naranjo, diretor da polícia nacional colombiana, anunciou, em fevereiro, que uma força de 350 policiais vai patrulhar o TransMilenio.
"Por causa de todos os problemas com a expansão TransMilenio, a cidade parece estar em situação de colapso", disse Clara Castillo, 53, cujo carro está retido na garagem de casa há um ano, desde que operários lacraram o acesso à rua por causa das obras.
"Imagine chegar em casa um dia e encontrar a entrada para sua casa bloqueada sem aviso prévio", disse ela. "É insultuoso como tudo isso foi planejado, ao mesmo tempo em que se descobre que alguns poucos estão lucrando com essa bagunça."
Revelações de um complexo esquema de propinas nos contratos para obras públicas em Bogotá envolveram Iván Moreno, um senador preso por acusações de corrupção. Ele é irmão de Samuel Moreno, o prefeito afastado de Bogotá, cujo índice de reprovação alcançou inacreditáveis 85% neste ano. Ambos negam qualquer irregularidade.
O presidente Juan Manuel Santos nomeou sua ministra da Educação, María Fernanda Campo, para substituir Samuel Moreno durante as investigações do caso de corrupção. Um novo prefeito será eleito em outubro. Quem ganhar a eleição vai herdar uma série de desafios, alguns deles ligados não à corrupção, mas ao dinamismo econômico de Bogotá e à expansão do crédito. As vendas de automóveis estão em alta, piorando os congestionamentos na capital.
Como algumas artérias viárias importantes estão entupidas por obras demoradas, muitos moradores precisam enfrentar trajetos diários mais longos e perigosos do que há alguns anos, o que contribuiu com o pessimismo que tem se instalado na cidade.
"Há o efeito de ouvir muito mais notícias negativas do que nos anos anteriores", disse a psicóloga Ana Rodríguez, 30. "Eu me desloco com muito mais cuidado, pois escutamos falar de como quadrilhas criminais se infiltraram nos ônibus."
Segundo uma pesquisa realizada pela Câmara de Comércio de Bogotá, 72% dos habitantes acham que a insegurança cresceu. A incidência de crimes como o homicídio continua baixa, mas assaltos nas ruas e furtos nos transportes públicos aumentaram desde 2007.
"Nos últimos anos, a polícia se tornou mais tolerante com pequenas infrações, como o estacionamento proibido, o que, por sua vez, criou uma sensação de desordem", disse Ricardo Montezuma, um urbanista que dirige a Fundação Cidade Humana.
"O prefeito tentou se distanciar de modelos vistos como algo mais autoritário em termos de comportamento dos cidadãos, mas, embora as pessoas pudessem estar insatisfeitas com tanto controle, elas estão, nesse momento, muito mais insatisfeitas com a falta total de controle."
Muitos habitantes de Bogotá reconhecem que transformar a cidade outra vez será uma tarefa nada invejável.
"A hora do rush nas nossas ruas está infernal", disse Edwin Gómez, 35, um professor universitário que se desloca de moto pela tumultuada Bogotá. "Às vezes, a cidade parece um formigueiro coberto de automóveis parados."

Colaborou Jenny Carolina González



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