São Paulo, segunda-feira, 23 de novembro de 2009

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Desacelerar depois da ginástica não é crucial

Por GINA KOLATA
A importância da desaceleração gradual após os exercícios está enraizada na doutrina da ginástica. É citada nos livros de fisiologia, os personal trainers insistem nela, e revistas especializadas recomendam. Em equipamentos de academias, chega a ser algo automático: você digita o tempo que deseja se exercitar, e, quando o tempo termina, a máquina por si só reduz a carga e continua por mais cinco minutos, para que você desacelere.
O problema, diz Hirofumi Tanaka, fisiologista do exercício da Universidade do Texas, Austin, é que praticamente não há base científica para esse conselho.
Essa desaceleração é "um tópico subestudado", diz. "Todos acham que é um fato estabelecido, então não o estudam."
Não está claro o que essa desaceleração deveria ser. Alguns dizem que basta continuar em movimento por alguns minutos. Outros afirmam que é preciso passar 5 a 10 minutos fazendo o mesmo exercício, só que mais lentamente. E há quem garanta que é necessário incluir alongamento.
Tampouco está claro para que ela serve. Alguns dizem que alivia a dor muscular. Outros afirmam que evita a rigidez muscular ou que alivia a carga cardíaca.
Os pesquisadores dizem que só há consenso acerca do possível risco de uma parada repentina. Durante exercícios intensos, os vasos das pernas se dilatam para levar mais sangue às pernas e pés, e o coração bate mais rápido. Se você para de repente, seu coração se desacelera, o sangue se acumula nas pernas e aos pés, e você pode ficar tonto e até desmaiar.
Os melhores atletas são os mais vulneráveis, segundo o cardiologista e maratonista Paul Thompson, pesquisador do exercício do Hospital Hartford, em Connecticut (EUA). "Se você é bem treinado, seu ritmo cardíaco já é lento e se desacelera com ainda mais rapidez com o exercício", disse.
Esse efeito pode ser nocivo para alguém com uma doença cardíaca, disse o fisiologista Carl Foster, da Universidade de Wisconsin em La Crosse, explicando que, nesses casos, os vasos sanguíneos que chegam ao coração já estão mais estreitos, dificultando a passagem do sangue.
Mas isso importa para o atleta comum, mediano? "Provavelmente não muito", disse Thompson. E, de qualquer forma, a maioria das pessoas não fica parada como pedra quando a ginástica termina. Elas andam até o vestiário, até o carro ou até sua casa, beneficiando-se da desaceleração sem oficialmente "desacelerar". A ideia da desaceleração parece ter se originado da teoria popular -hoje desmentida- segundo a qual os músculos doem depois do exercício por acumularem ácido láctico.
Na verdade, o ácido láctico é um combustível. É uma parte normal do exercício e nada tem a ver com a dor muscular. Mas a teoria do ácido láctico levou à noção de que reduzir lentamente a intensidade da atividade permitiria que a substância se dissipasse.
Segundo Tanaka, um estudo com ciclistas concluiu que, sendo o ácido láctico bom, é melhor não desacelerar depois de um exercício intenso. O ácido láctico era revertido em glicogênio, um combustível muscular, quando os ciclistas simplesmente paravam. Quando desaceleravam, era desperdiçado na alimentação dos músculos.
E, quanto à dor muscular, a desaceleração não a alivia, segundo Tanaka. E a rigidez muscular? "Não há dados para apoiar a ideia de que a desaceleração ajuda", disse Foster.
Os pesquisadores do exercício dizem seguir os seus próprios conselhos. Thompson afirma que, se está fazendo uma atividade puxada em pista, caminha uma curta distância ao terminar, para evitar a tontura. Já Tanaka não desacelera nada. Ele joga futebol e diz que não vê uma razão específica para fazer nada após o exercício a não ser, simplesmente, parar.


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