São Paulo, segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

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DINHEIRO & NEGÓCIOS

Investindo em pedaços de Picasso

Por HEIDI N. MOORE
Os aficionados pela arte por muito tempo se consideraram uma classe mais elitizada que os especuladores de Wall Street. Agora, uma nova leva de firmas financeiras passou a vender participação acionária em pinturas.
A ideia é simples: alguns grandes investidores reúnem dinheiro para ajudar um gestor a comprar pinturas. Investidores menores compram ações vinculadas às obras, e pagam taxas em torno de 5% do patrimônio e 20% dos lucros.
Especialistas em arte veem com nervosismo as semelhanças entre esses fundos e os derivativos e títulos amparados em patrimônio, investimentos opacos que ficaram mal afamados durante a crise financeira.
A firma de pesquisas em arte Skate's e outros proponentes estão tentando legitimar esse movimento emergente, tornando o mercado mais transparente e prestando orientação aos investidores.
Como ações e títulos continuam voláteis, investidores ricos do exterior estão correndo para bens tangíveis, como obras de arte. Leilões bateram recordes em 2010. Interessados pagaram US$ 106,5 milhões por um Picasso, US$ 104,3 milhões por um Giacometti, US$ 89,5 milhões por um vaso chinês da era Qianlong, e US$ 11,5 milhões por um livro raro do naturalista Audubon.
Ao investirem por meio de fundos, indivíduos ricos podem possuir obras sem pagar as taxas e impostos geralmente associados à posse completa. Alguns gestores afirmam que o lucro chega a 20%.
Esse campo, com um patrimônio de US$ 300 milhões, é pequeno, mas está crescendo. Em Paris, a Bolsa da Arte planeja listar publicamente pelo menos seis obras, vendendo ações a investidores. A russa Leader, de gestão patrimonial, criou dois investimentos nessa área. Em 2010, a Rússia aprovou regras para permitir que obras sejam transformadas em títulos financeiros -algo que a Índia já fizera. A Noah Wealth Management e o Terry Art Fund estão lançando carteiras na China.
A Skate's, fundada pelo banqueiro e empresário russo Serguei Skaterschikov, se propõe a ser a "Standard & Poor's da arte", segundo seu presidente, Michael Moriarty.
Mas iniciativas desse tipo já fracassaram anteriormente. Durante o boom econômico de 2005-07, cerca de 40 fundos de arte arrecadaram de US$ 350 milhões a US$ 450 milhões, de acordo com a Skate's. Mas só os mais estabelecidos, como o China Fund e o Fine Art Fund, sobreviveram.
Desta vez, alguns especialistas temem que os fundos de arte -populares principalmente em mercados emergentes- atraiam maus elementos, pois facilitam a lavagem de dinheiro e a ocultação de patrimônio.
"Funcionários governamentais corruptos que têm dinheiro estão sempre procurando formas de mantê-lo, e de mantê-lo fora do sistema bancário", disse William Browder, criador do fundo de hedge Hermitage Capital.
Há outros obstáculos. Financeiras podem ter dificuldades em penetrar na comunidade artística, o que é crucial para a compra e venda de obras.
A presidente da Associação de Marchands dos EUA, Lucy Mitchell-Innes, disse que jamais permitiria que um jovem artista vendesse uma obra a um fundo de investidores. "Em geral resistimos a ver a arte como mais um instrumento financeiro", disse.
E, segundo Harry Smith, executivo-chefe da firma de avaliações Gurr Johns, os marchands tendem a manter os bons negócios para si, e a aumentar o preço quando os fundos aparecem -se é que topam trabalhar com eles.
"O vento contrário que os fundos de arte enfrentam é que as coisas que eles desejam comprar são caras, e as coisas baratas eles não deveriam comprar", disse Smith.


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