São Paulo, segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

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Vietnã se beneficia por estar à sombra econômica da China

Livre comércio e trabalho qualificado criam potência

Por WAYNE ARNOLD
Um dos maiores beneficiários da rápida ascensão econômica da China é outro país socialista, o Vietnã, um rival histórico e ocasional inimigo.
O Vietnã acompanha o ritmo chinês graças às suas próprias reformas econômicas, à sua população de 87 milhões -e em rápida expansão-, à mão de obra barata e a um acordo de livre comércio que lhe permitiu ser parte da vasta cadeia global de suprimentos que abastece a indústria da China.
"Se a China não estivesse lá", disse Jonathan Anderson, economista do UBS em Hong Kong, "o Vietnã talvez não tivesse se aberto".
O Vietnã oficialmente reabriu suas portas aos investidores estrangeiros em 1986. No entanto, só entrou realmente para o boom econômico asiático ao reconquistar seu ex-inimigo, os EUA, que suspenderam um embargo comercial em 1994 e normalizaram o comércio com o país em 2000.
O acordo comercial americano reduziu de quase 60% para zero as tarifas sobre calcinhas e sutiãs vietnamitas vendidas nos EUA. Indústrias têxteis e confecções da Coreia do Sul e de Taiwan correram para o Vietnã.
Outras indústrias leves logo se seguiram, como as de eletrodomésticos e montadoras de motos, além de um setor até então dominado pela China -o de móveis.
Em 13 de janeiro, o partido governista do Vietnã estabeleceu metas de crescimento de 7% a 8% ao ano até 2020, e de quase triplicar a renda per capita, chegando a US$ 3.000. Mas seus líderes salientaram a necessidade de conter a inflação.
Quando a China aderiu à OMC (Organização Mundial do Comércio), em 2002, muitos temeram que os dias do Vietnã e do resto do Sudeste Asiático como destino favorito para investimentos estrangeiros chegariam ao fim.
Mas, no mesmo ano, a China assinou um tratado de livre comércio com o Vietnã e com os outros nove membros da Associação de Nações do Sudeste Asiático.
Embora ele desse a países mais pobres, como o Vietnã, até 2015 para se abrir aos produtos chineses, a China eliminou já em 2003 as suas tarifas sobre os produtos agrícolas dos vizinhos. Foi uma dádiva para o Vietnã, que, além de ser um grande exportador de arroz, pimenta e café, também exporta mais petróleo do que importa.
Então a China tropeçou. A desenfreada pirataria tecnológica, as manifestações nacionalistas e a escassez de mão de obra qualificada levaram muitas empresas estrangeiras, especialmente as japonesas, a transferirem parte da sua produção de volta para o Sudeste Asiático. Pior ainda, os salários na China subiam rapidamente.
E lá estava o Vietnã, esperando com sua própria mão de obra bem-formada, mas muito mais barata. Em 2010, a Intel inaugurou uma fábrica de semicondutores, um investimento de US$ 1 bilhão, perto de Ho Chi Minh (ex-Saigon), para substituir unidades na Malásia, Filipinas e China.
A fábrica de impressoras da Canon perto de Hanói é a maior da empresa. Muitas das peças vêm da China, salientando um lado negativo nos esforços vietnamitas para seguir os passos chineses. As importações de maquinário e equipamentos contribuem com um deficit comercial de quase US$ 11,5 bilhões do Vietnã com seu vizinho.
"Será que o Vietnã está pronto e será capaz de absorver uma nova onda de investimentos estrangeiros resultante da 'mudança estrutural' na China?", questionou Dinh Tuan Viet, economista-sênior do Banco Mundial em Hanói.
"Parece-me que ainda há muitas restrições para que o Vietnã aproveite essa chance: infraestrutura ruim e um setor logístico subdesenvolvido, uma força de trabalho abundante, mas desqualificada etc."
Mesmo assim, o Vietnã tem atraído investidores como alternativa à China. Os investimentos estrangeiros no país praticamente quadruplicaram entre 2005 e 2008, de acordo com o Banco Mundial, chegando a US$ 9,58 bilhões, e caíram 20% durante a crise, em 2009, para US$ 7,6 bilhões. Na China, caíram quase à metade.


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