São Paulo, segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Caminhada explora ímpeto de sobrevivência

Por TERRENCE RAFFERTY
"The Way Back" (O Caminho de Volta) é o primeiro filme do diretor australiano Peter Weir em mais de sete anos. Três projetos diferentes em que ele trabalhou nos últimos anos fracassaram.
É incrível pensar que um cineasta respeitado e bem-sucedido como Weir tenha ficado parado por tanto tempo. Mas o clima talvez seja especialmente inóspito para o tipo de filme ambicioso e aventuresco que ele prefere fazer. (Este, com um orçamento modesto de US$ 30 milhões, teve de ser produzido de forma independente.)
"Nesta altura da minha vida, quero uma grande pintura", disse. "É sempre interessante olhar para um acontecimento importante que faz os personagens se comportarem de determinada maneira."
O filme anterior de Weir, o turbulento "Mestre dos Mares - O Lado Mais Distante do Mundo", certamente foi desse tipo, e "The Way Back", mais tranquilo, não é menos consequente. Baseado em uma autobiografia do escritor polonês Slavomir Rawicz, o filme é sobre prisioneiros que escapam de um campo soviético (gulag) em 1940 e caminham milhares de quilômetros até a liberdade: os mais sortudos chegam à Índia.
"A questão do que faz alguém continuar andando é sempre intrigante", disse Weir. "Você pode apenas se deitar e morrer. Existe alguma coisa em nosso interior que nos impele a seguir."
É uma declaração mais grandiosa do que qualquer uma do próprio filme.
"O filme é totalmente despido de sentimentalismo", disse Ed Harris, que interpreta um enigmático fugitivo americano. Outro astro, Jim Sturgess, disse que o diretor não quis os momentos grandiosos que às vezes desfiguram os filmes do tipo "triunfo do espírito humano".
"Quando li o roteiro pela primeira vez", disse Sturgess, "cheguei a uma cena e pensei: 'Este é um lugar para usar minhas habilidades teatrais'. Mas, ao filmar, isso de certa forma se tornou mentira."
Weir introduziu elementos fantásticos em seus primeiros filmes, "The Cars That Ate Paris" (1974), "Piquenique na Montanha Misteriosa" (1975) e "The Last Wave" (1977), mas geralmente sem efeitos especiais. Em vez disso, teve de usar a sugestão -detalhes incongruentes, desaparecimentos fantasmagóricos-, o que talvez tenha aguçado seu sentido da importância da precisão visual. Isso fica evidente em seu épico sobre a Primeira Guerra Mundial "Gallipoli" (1981) e em "O Ano em que Vivemos em Perigo" (1982), sobre uma revolução na Indonésia.
Seus atores apreciam o esforço. "Ele está tão preocupado em acertar as coisas que nos deixa descontraídos", disse Sturgess.
Mas "descontraído" não é a palavra que vem à mente quando se vê os atores de "The Way Back" sofrerem num terreno inclemente. (O filme, que estreia em breve nos EUA, foi rodado na Bulgária e no Marrocos, com cenas na Índia.)
O rigor da abordagem de Weir talvez explique a lacuna de cinco anos entre "Sem Medo de Viver" (1993) e "O Show de Truman"; outros cinco anos se passaram antes de "Mestre dos Mares". Toda a sua carreira parece ligeiramente presente na jornada dura mas bela de seu novo filme. "Acho que, como os outros projetos não vieram à luz, eu estava decidido que este iria acontecer, e encontrei aquela reserva de energia", disse.
"Como cineasta você passa a vida inteira trabalhando para simplificar. É o seu objetivo, se tiver sorte suficiente para ter uma longa carreira."


Texto Anterior: Ensaio - Nicolai Ouroussoff: Salvando o legado, e o tecido da vida, na Síria
Próximo Texto: Estúdio nascido dos quadrinhos chama a atenção de Hollywood
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.