São Paulo, segunda-feira, 24 de outubro de 2011

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LENTE

Colhendo fora do jardim

A carne está saindo de moda. Depois da época em que o bacon se entranhou em nossos corpos, mentes e almas e os açougueiros de butique foram idolatrados, chegou a hora e a vez da planta silvestre humilde e comestível. Pode ser graças ao custo dos alimentos, ao desejo de ser hiperlocal ou a uma era em que até as trufas são cultivadas comercialmente, mas a floresta é a nova fronteira a ser desbravada.
"Os bosques são lugares misteriosos onde crescem plantas", disse ao "New York Times" o chef Matthew Lightner, do restaurante Castagna, de Portland, Oregon. "Você não precisa cuidar, não precisa plantar -só precisa encontrar. Todo o mundo já está acostumado com ingredientes exóticos importados de longe ou com ingredientes que vêm da horta para a mesa. Agora as pessoas se interessam quando lhes servimos algo que elas viram na natureza, quando estavam fazendo uma caminhada."
Bolsa-de-pastor, dentária, cerefólio anisado, "sea buckthorn" (arbusto que cresce em costas arenosas e tem bagas comestíveis cor de laranja) e "brown jug" (Hexastylis arifolia) estão abrindo caminho do chão da floresta para pratos em restaurantes como o Torrisi Italian Specialties, em Nova York, o Alinea, em Chicago, o Toqué!, em Montreal, e o Noma, em Copenhague.
No The Willows Inn, na ilha Lummi, no noroeste dos EUA, os chefs saem em caminhadas em busca de mostarda marinha, azedinha e flores silvestres. Para a sobremesa, servem sorvete de pinhão colhido na natureza.
Mas não são apenas chefs de restaurantes que andam procurando alimentos na natureza. Possivelmente entediados com a beldroega e os cogumelos "porcini", antes descobertas emocionantes mas hoje facilmente encontrados, moradores de Nova York andam vasculhando os parques da cidade em busca de outras plantas silvestres comestíveis, como o gengibre americano, o "Japanese knotweed", com aparência semelhante a um bambu, e as nêsperas. As autoridades responsáveis pelos parques orientaram os guardas a afastar as pessoas, dizendo que os parques não podem sustentar essa atividade, que, ademais, é prejudicial às tâmias.
Coletar alimentos na natureza deixou de ser a atividade esdrúxula, de nicho, que foi no passado. Steve Brill, que comandou excursões de coleta no nordeste do país durante anos, hoje atrai grupos grandes. Ele chegou a ter 78 pessoas em uma caminhada -o máximo até hoje.
Na seção Queens de Nova York, o parque Kissena já foi saqueado diversas vezes, tanto que ervas, flores e uma cerejeira inteira desapareceram.
"Há grupos que andam por aí coletando plantas que reconhecem de seus países de origem", disse ao jornal Gary Lincoff, do Jardim Botânico de Nova York. "Os chineses colhem gingko, e já conversei com coreanos que colhem 'white wood aster' (Eurybia divaricata)."
Algumas pessoas não apenas colhem -também plantam. David Abreu, da República Dominicana, faz parte de um pequeno contingente de imigrantes que criam hortas nos parques públicos de Nova York. Ele contou que sua horta de feijão e coentro cresceu muito bem em Washington Heights, até que a prefeitura arrancou tudo, em junho.
Coletar alimentos na natureza "mexe com algo emocional", disse o chef Daniel Patterson, proprietário do restaurante Coi, em Nova York. "Você é nutrido pelo lugar em que vive."
ANITA PATIL

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nytweekly@nytimes.com


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