São Paulo, segunda-feira, 24 de outubro de 2011

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Banqueiros rejeitam "Ocupe Wall Street"

Os que protestam seriam um "grupo marginal"

Por NELSON D. SCHWARTZ
e ERIC DASH


Em público, os banqueiros dizem compreender a raiva contra Wall Street, mas acreditam ser mal compreendidos pelos protestos às suas portas.
Quando falam em particular, porém, a história é diferente.
"A maioria das pessoas os considera um grupo de baderneiros em busca de sexo, drogas e rock'n'roll", disse um gestor de fundo de investimento.
"Não é uma rebelião da classe média", acrescenta outro veterano executivo de banco. "São grupos marginais. São pessoas que têm tempo para fazer isso."
Embora pacíficas até agora, as manifestações diante de agências do Bank of America, Chase e Wells Fargo de San Francisco a Peoria, Illinois, são extremamente parecidas com as que se veem habitualmente em agências do Citibank em Atenas, Hong Kong e outros mercados no exterior. Enquanto as manifestações chamadas de "Ocupem Wall Street" crescem e se espalham para outras cidades, uma pergunta: os banqueiros estão entendendo?
Alguns em Wall Street veem os manifestantes com desprezo. Outros dizem que sentem suas dificuldade, mas estão confusos sobre o que deveriam fazer. Um punhado sente simpatia.
Mas alguns se sentem pessoalmente atacados. As pessoas deveriam demonstrar um pouco de gratidão, dizem.
"Quem você acha que paga os impostos?", disse um antigo gerente de capital. "Os serviços financeiros são uma das últimas coisas que fazemos neste país, e fazemos bem. Vamos adotá-los. Se você quer continuar tendo empregos terceirizados, continue atacando os bancos. Esse é um pessoal revoltado."
Em geral os banqueiros tratam os manifestantes como sem sofisticação. Não muitos estão dispostos a dizer isso em voz alta. "Qualquer um que os rejeite publicamente está colocando um alvo em suas costas", disse o diretor do fundo hedge.
John Paulson, o titã dos fundos de investimento que ganhou bilhões na crise financeira apostando contra o mercado de hipotecas subprime, foi a exceção, e chegou a defender a pequena faixa de grandes beneficiários atacados pelos manifestantes do Ocupem Wall Street.
"O 1% de nova-iorquinos no topo paga mais de 40% de todo o imposto de renda, fornecendo enormes benefícios para todos em nossa cidade e estado", disse Paulson, cuja casa foi alvo de piquetes em 11 de outubro.
As mensagens que vêm dos manifestantes não concordam absolutamente. Eles têm inúmeras queixas, embora muitos vejam Wall Street como o símbolo mais poderoso da desigualdade de renda e da "injustiça econômica" contra as quais eles protestam. Existe ampla indignação pelo fato de os bancos serem socorridos enquanto seus clientes estão sendo despejados, e de os bancos distribuírem altos cheques de bônus e indenizações logo depois que a crise eclodiu.
O Bank of America recentemente revelou que estava pagando um total de US$ 11 milhões em indenizações para dois executivos dispensados em uma reorganização da direção, Sallie Krawcheck e Joe Price, enquanto a companhia disse que começaria a demitir aproximadamente 30 mil empregados.
"Wall Street continua subestimando o grau de raiva dos cidadãos e eleitores", disse Douglas J. Elliott, um antigo banqueiro de investimentos que hoje é professor no Instituto Brookings, uma organização de políticas públicas em Washington, DC.
A maioria dos banqueiros diz que vê os protestos como uma reação ao alto desemprego e lento crescimento que assolam a economia americana desde 2008. Sem uma mensagem coerente, as multidões acabarão se esgarçando, insiste o pessoal de Wall Street -especialmente quando o clima esfriar.
"Existe uma opinião de que será muito som e fúria sem significado", disse uma autoridade da indústria financeira.
Um grupo menor de executivos de bancos leva mais a sério os protestos. Eles os consideram um sinal da crescente divisão econômica nos Estados Unidos.
Alguns da indústria financeira se destacaram ao dizer que compreendem a indignação.
O presidente do Citigroup, Vikram S. Pandit, chegou a afirmar que ficaria feliz em conversar com os manifestantes a qualquer momento que quiserem aparecer. Pandit disse que os "sentimentos [dos manifestantes] são compreensíveis".
Os manifestantes deveriam considerar que o Citi e outros são "obrigados a praticar finanças responsáveis", ele disse, "e continuar a nos perguntar como estamos nos saindo".


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