São Paulo, segunda-feira, 24 de outubro de 2011

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DINHEIRO & NEGÓCIOS

Sanções podem ser a ruína de Assad

Por NADA BAKRI

BEIRUTE, Líbano - A economia síria está se curvando à pressão das sanções ocidentais e da onda de rebelião popular, que assola o país há sete meses. A sociedade local sente os efeitos, o que se torna um crescente desafio ao presidente Bashar Assad.
A moeda síria está se desvalorizando, a recessão se agrava, o setor turístico está devastado e as sanções internacionais vêm afetando a maior parte das atividades essenciais. Por isso, o FMI (Fundo Monetário Internacional) prevê que a economia síria encolherá pelo menos 2% neste ano.
Em abril, um mês depois do início da rebelião, o FMI ainda previa um crescimento de 3% em 2011 e de 5,1% em 2012.
Ao longo de quase sete meses de protestos e de uma repressão brutal que já matou mais de 2.900 pessoas, Assad e seus partidários têm demonstrado uma coesão que surpreende até seus críticos.
Mas analistas dizem que as oscilações econômicas representam um golpe duplo para um governo que no passado valia-se dos seus êxitos econômicos como fonte crucial de legitimidade.
Agora, uma sensação de desespero ecoa pelas ruas das mais diversas cidades sírias.
Autoridades europeias e americanas têm debatido se as sanções vão afetar mais os cidadãos comuns sírios ou os líderes do país.
Alguns analistas argumentam que o governo pode tentar usar as sanções para unir a população contra um inimigo comum, na linha "nós contra eles".
Em Damasco e Alepo, maiores cidades da Síria, as queixas estão crescendo e autoridades americanas e turcas acreditam que as elites mercantis dessas cidades acabarão se voltando contra Assad.
"Não tenho mais condições de comprar nada para a minha família", disse o analista econômico Ibrahim Nimr, de Damasco. "Não estou mais ganhando dinheiro."
Um empresário em Damasco afirmou que "as pessoas não estão comprando nada de supérfluo, só o que é estritamente necessário".
Autoridades dos Estados Unidos e Turquia dizem que o governo provavelmente poderá sobreviver até o fim do ano, mas que o impacto das sanções e protestos acabará por derrubar Assad num prazo de 6 a 18 meses.
"Estamos todos esperando por algo que irá rachá-los", declarou um funcionário do governo de Barack Obama. "E será a economia que irá acordar todo mundo."
As receitas da exportação de gás e petróleo, que respondem por até um terço da arrecadação pública e representam a principal fonte de divisas estrangeiras, vão secar no início de novembro, quando entrará em vigor totalmente a proibição da União Europeia a esse comércio.
As turbulências também paralisaram o setor turístico, que responde por US$ 7,7 bilhões por ano. Vários hotéis de Damasco estão sem reservas e alguns fecharam.
Um comerciante da capital disse não ver um só turista desde março. Em Homs, onde os distúrbios ganham aspecto de guerra civil, o restaurante Dik al Jin, onde ocorriam muitas festas e casamentos, também fechou.
Por enquanto, o governo parece estar confiante de ter neutralizado os protestos dos últimos meses.
Outra boa notícia para o regime foi o veto da China e da Rússia a uma resolução do Conselho de Segurança da ONU, em 4 de outubro, que condenava a repressão violenta contra os manifestantes.
Em setembro, o ministro das Finanças, Mohammad al Jleilati, disse que a Síria possuía US$ 18 bilhões em reservas internacionais, o suficiente para assegurar importações por dois anos.
Embora a maioria dos especialistas tenha contestado a cifra, eles acrescentaram que, devido à falta de transparência, é difícil determinar a quantia real.
O governo da Turquia, outrora uma importante parceira comercial da Síria, também está preparando sanções ao país.
Recentes estatísticas divulgadas pela estatal Agência Síria de Investimentos apontaram uma redução na confiança dos consumidores e investidores. O valor depositado nos cinco maiores bancos da Síria caiu quase 17% no primeiro semestre.
As autoridades sírias anunciaram nos últimos meses medidas que, segundo a maioria dos especialistas, devem agravar a crise.
A decisão tomada no mês passado de proibir a importação da maioria dos produtos, a fim de proteger as reservas internacionais, criou tamanho alvoroço público que o governo de Assad a revogou uma semana depois.
Outra medida foi a aprovação de um orçamento de US$ 26,53 bilhões, o maior da história síria, 58% superior ao do ano anterior.
"De onde eles vão tirar esse dinheiro?", perguntou Nabil Sukkar, ex-funcionário do Banco Mundial que dirige um instituto independente de pesquisas em Damasco. "Ninguém lá fora vai nos ajudar."


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