São Paulo, segunda-feira, 25 de abril de 2011

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TENDÊNCIAS MUNDIAIS

Ameaça de inflação enerva os parceiros da China

Pequim ordena aumento nas reservas monetárias

Por DAVID BARBOZA

XANGAI - Enquanto os EUA e a Europa lutam para fazer suas economias avançarem novamente, a China tem o problema oposto: descobrir como evitar que seu motor de crescimento acelerado provoque inflação descontrolada.
O último sinal de que as coisas estão se movendo depressa demais surgiu em 17 de abril, quando o Banco Central da China ordenou que os maiores bancos aumentassem suas reservas monetárias. A medida, essencialmente, reduz a quantidade de dinheiro disponível para empréstimos e é uma tentativa de resfriar a economia. Ela se segue ao anúncio pelo governo de que a economia chinesa estava crescendo a um índice anualizado de 9,7%, de longe o melhor desempenho das economias mundiais.
Como a China é a segunda maior economia do mundo, depois dos Estados Unidos, e como o país foi uma das principais fontes de crescimento global nos últimos dois anos, problemas de dinheiro aqui podem repercutir no mundo todo.
A inflação alta põe em risco a posição da China como a oficina de mão de obra barata do mundo. E, se os esforços do governo para combater a inflação fizerem a economia vacilar, eles poderão obscurecer a previsão das empresas internacionais que têm contado com a China para crescer.
"As raízes da inflação foram estabelecidas depois da crise financeira, com a política de estímulo", disse Zhang Weiying, professor de economia na Universidade de Pequim. Depois de um grande estímulo, conter a inflação não é fácil. "Pode levar muito tempo."
A inflação também representa uma ameaça para a estabilidade social, uma preocupação particular para Pequim, especialmente depois que governos autoritários no norte da África e no Oriente Médio enfrentaram rebeliões.
Os preços dos alimentos estão subindo, e o governo disse, em 15 de abril, que o índice de preços ao consumidor de março havia subido 5,4%, seu aumento mais acentuado em três anos. Esperando domar a inflação, nos últimos seis meses, Pequim endureceu as restrições aos empréstimos bancários e aumentou as taxas de juros para empréstimos e depósitos.
O governo também aumentou os subsídios agrícolas para conter os preços dos alimentos e tentou proibir que algumas empresas elevassem os preços. Esses esforços formam um contraste com os dos Estados Unidos onde a inflação está baixa (o índice de inflação anual subjacente foi de 1,2% no mês passado) e onde o debate se concentra em quanto estimular a economia diante do tamanho do deficit. A inflação também está baixa na Europa, onde alguns países impõem duras medidas de austeridade para superar suas brechas orçamentárias.
Analistas dizem que os resultados da administração econômica chinesa foram mistos. O crescimento começou a se moderar em relação ao ritmo aquecido de cerca de 10% anuais, mas a inflação piorou. Por exemplo, os preços da habitação continuam subindo, apesar de Pequim ter prometido, há muito tempo, conter o mercado imobiliário e gastar bilhões de dólares nos próximos anos em habitações populares. Um apartamento médio no centro de Xangai, hoje em dia, custa mais de US$ 500 mil. Mesmo em Chengdu, no centro do país, o preço de uma casa típica é cerca de 25 vezes maior que a renda média anual dos moradores.
Analistas também dizem que grande parte do crescimento chinês continua ligado aos gastos inflacionários em desenvolvimento imobiliário e investimentos do governo em estradas, ferrovias e outros projetos multimilionários de infraestrutura.
O boom chinês começou no início de 2009, durante a crise financeira global, quando Pequim se moveu agressivamente para aumentar o crescimento com um pacote de estímulo de US$ 586 bilhões e empréstimos recordes pelos bancos estatais. A política monetária frouxa e os grandes investimentos em projetos de governos locais reanimaram o crescimento. Mas, já na época, havia preocupações sobre o aumento dos preços dos imóveis, empréstimos bancários indisciplinados e as enormes dívidas contraídas por governos locais.
O temor entre alguns especialistas é que essa bolha acabe estourando e leve a uma onda de empréstimos inadimplentes nos grandes bancos estatais chineses, que foram os principais financistas do fenomenal crescimento do país desde as reformas econômicas da década de 1980.
O governo aumentou os salários mínimos na esperança de reduzir a grande brecha de renda existente entre os ricos e os pobres, os urbanos e os rurais. Mas o aumento dos salários causou uma elevação dos custos de produção, levando a preços maiores.
"A China está se movendo para uma nova era, uma nova norma", disse Dong Tao, um economista do Crédit Suisse em Hong Kong. "Na década anterior, a inflação estava em cerca de 1,8% ao ano; na próxima década poderá estar mais perto de 5%."
Enquanto os salários e os custos de produção aumentam, as fábricas litorâneas exigem preços mais altos para os produtos que remetem para o exterior. Isso significa que os compradores terão de pagar mais por esses bens ou buscar fornecedores mais baratos em outros lugares. "Ouvi falar que muitos exportadores chineses estão recusando encomendas do Wal-Mart e de outros varejistas ocidentais", disse Tao. "Eu cubro a economia chinesa há muito tempo e nunca ouvi isso antes."


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