São Paulo, segunda-feira, 25 de abril de 2011

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Belarus vive profunda crise econômica

Longas filas, rublo fraco e um mortífero atentado

Por MICHAEL SCHWIRTZ

MINSK, Belarus - Os preços estão subindo, a cotação da moeda nacional está despencando, os gêneros alimentícios importados estão desaparecendo das prateleiras.
Aí, no começo do mês, veio a misteriosa explosão numa estação de metrô, matando 13 pessoas e ferindo cerca de 200.
A sensação de um mau presságio está se espalhando por Belarus.
O ataque no metrô parece ter abalado a confiança do autoritário presidente Aleksandr Lukashenko, que diz ser o único garantidor da segurança e da estabilidade na ex-república soviética. Mesmo antes de os operários terem terminado de limpar o entulho da explosão, uma fila havia se formado numa casa de câmbio perto dali.
"A gente se lembra da década de 1990, quando as pessoas faziam fila para o pão", disse a dona de casa Maria Titova, 40. "Agora, fazemos fila por dólares."
De todos os países do antigo bloco comunista, Belarus é talvez o que tenha maior semelhança com a União Soviética. Com seu presidente de pulso firme e um robusto serviço de segurança -ainda chamado KGB-, esta nação de 10 milhões de habitantes é de longe a mais autocrática da Europa.
Em quase 17 anos como presidente, Lukashenko criou uma economia planificada com base no modelo soviético.
Enquanto seus seguidores lhe dão crédito por ter poupado Belarus das violentas oscilações econômicas vividas pelas vizinhas Rússia e Ucrânia, seus oponentes dizem que o sistema não criou nada a não ser estagnação.
Hoje em dia, Belarus é muito dependente da ajuda estrangeira. Irritados com a aparente fraude na eleição presidencial de dezembro e com a subsequente repressão à oposição, governos ocidentais impuseram sanções a Lukashenko e a seu governo.
Desde outubro de 2010, as reservas cambiais tiveram uma queda superior a US$ 2 bilhões, chegando a meros US$ 3,7 bilhões, segundo o FMI. O Banco Central foi obrigado a limitar a disponibilidade de divisas. A maior parte dos dólares e euros ainda disponíveis pode ser adquirida somente no mercado negro, a cotações elevadas.
"Eu vendo produtos calculados com uma taxa de câmbio específica, mas agora não posso comprar dólares a essa taxa, porque eles não existem", disse um vendedor de cosméticos chamado Oleg. "Estou trabalhando no vermelho."
Os problemas, segundo economistas, decorrem em grande parte do que Lukashenko fez para angariar apoio antes da eleição de dezembro, abrindo os cofres públicos para elevar salários, pensões e subsídios. Mesmo assim, teve de cometer uma fraude para garantir sua vitória, de acordo com observadores independentes, e isso desencadeou enormes protestos contra o governo.
Centenas de pessoas foram presas em uma violenta repressão, e dezenas de dirigentes da oposição agora podem pegar até 15 anos de prisão por organizar o que Lukashenko qualificou como uma tentativa de golpe. Economistas têm pedido medidas imediatas para controlar os gastos públicos, mas reformas significativas, como a redução dos salários, seriam "politicamente inaceitáveis para as autoridades atuais", segundo Sergei Chali, um economista independente em Minsk.
Lukashenko sugeriu que os protestos de dezembro, os atuais problemas econômicos e o atentado deste mês são parte de uma conspiração.
"Qualquer pânico, em particular sobre os gêneros alimentícios e a moeda, deve ser combatido", afirmou. "Os culpados por espalharem mentiras caluniosas serão criminalmente responsabilizados."
A escassez de informações oficiais sobre o estado da economia estimula especulações sobre o que as autoridades estariam escondendo, especialmente depois do atentado no metrô.
Mesmo sem evidências que comprovem isso, surgiram rumores de que Lukashenko e seus serviços de segurança poderiam estar por trás do ataque em Minsk.
"A situação econômica no país é muito difícil, os preços de tudo têm subido, e os salários continuam iguais", disse a estudante Anna Osenenko, 19. "Então, isso [o atentado] foi feito para desviar a atenção."
No amplo mercado local de Komarovsky, os esforços de Lukashenko para encobrir a gravidade dos problemas econômicos de pouco têm servido para acalmar as preocupações de alguns comerciantes de alimentos.
"Nós estamos vivendo na corda-bamba", disse uma feirante de 43 anos, chamada Viktoria. "Temos abastecimento suficiente para até o final da semana e, depois, precisaremos fechar."


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