São Paulo, segunda-feira, 25 de abril de 2011

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EDWARD ROTHSTEIN
RESENHA


Por trás da magia: fazendo filmes de Potter

Antes de visitar "Harry Potter: a Exposição" na Discovery Times Square, eu imaginei erroneamente que a verdadeira função dessa exibição de 1.300 metros quadrados de cenários, figurinos e objetos de cena chegaria ao fim onde os pottérfilos podem comprar réplicas da varinha mágica de Albus Dumbledore por US$ 44,99 ou réplicas da gravata da escola Grifinória por US$ 49,99.
Existe um forte elemento comercial aqui; a entrada para adultos custa nada menos que US$ 25. A exposição foi criada pela Global Experience Specialists, em conjunto com a Warner Brothers Consumer Products. Cerca de um milhão de visitantes a viram desde 2009, quando iniciou a turnê por Chicago e Boston, e depois Toronto e Seattle em 2010. Após 5 de setembro, vai viajar além da América do Norte.
Mas a exposição é muito atraente, e o comércio, apenas uma pequena parte dela. Leva o assunto a sério, demonstrando como um mundo imaginário ganha vida através da atenção minuciosa aos detalhes. Ela torna o universo dos livros de J. K. Rowling (e os filmes feitos a partir deles) vividamente palpável.
Os visitantes começam em uma galeria onde são convidados a experimentar o Chapéu Seletor, que os dirige para a escola de magos de Hogwarts. Acompanhados por montagens em vídeos dos filmes, somos levados por professores -vilões e excêntricos- e objetos mágicos.
Acabamos chegando ao lugar onde se reúnem as terríveis Forças do Mal. Havia os doces fantásticos de Hogsmeade, guias para os exames da escola e uma visão de Dobby, o Elfo doméstico.
Mas esses objetos não são apenas lembretes de algo visto de maneira mais poderosa e em contexto mais amplo no cinema. Em vez disso, fica claro que os filmes funcionam tão bem porque nenhum objeto é realmente apenas um acessório. Tudo é imaginado com minúcia.
O narcisismo ridículo do professor Gilderoy Lockhart (interpretado por Kenneth Branagh) é visto em suas capas de livros, seus testes nas aulas e sua gravata borboleta dourada. O intenso tradicionalismo do professor Lupin se reflete em antigos discos de gramofone; as roupas de Ron são herdadas de seus irmãos. Nada é pequeno demais para se notar; o mundo imaginário, segundo definido por Rowling, é cheio de detalhes.
E há outra coisa. Os filmes e livros de Harry Potter são imbuídos de reverência pelo passado. Os livros expostos aqui são desenhados para parecer volumes do início do século 20 (com alguns ainda mais antigos, é claro). Os estilos de roupas de adultos quase não vão além da era eduardiana. Hogwarts é assombrada por tradições e detalhes góticos. Os uniformes da escola poderiam ser usados por crianças da Inglaterra obscurecida pela guerra de C. S. Lewis.
Esse é um mundo cheio de coisas do passado. Os criadores dos filmes são finamente sintonizados com esse aspecto dos romances, juntamente com uma celebração quase moderna das possibilidades multiculturais. Rowling olha para a frente e para trás simultaneamente. As figuras heróicas são os híbridos, os órfãos, os párias, os excêntricos, os verdadeiros herdeiros de uma grande tradição. Os vilões são absolutistas puro-sangue que ameaçam derrubar tudo.
Isso coloca os contos de Potter exatamente no centro da tradição da fantasia do século 20 que surgiu do trabalho de dois escritores britânicos por volta da Segunda Guerra Mundial: Lewis e J.R.R. Tolkien.
Também dá à série uma nostalgia quase comovente por um mundo prestes a ser destruído. A exposição presta tributo a um mundo perdido, exatamente quando a série de filmes está chegando ao fim. No desejo de adiar o apocalipse, quase fui inspirado a comprar uma varinha mágica.


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