São Paulo, segunda-feira, 25 de maio de 2009

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Dinheiro e negócios

Web "mata" enciclopédia Encarta

Ensaio
Randall stross

É o fim da Encarta, a enciclopédia que a Microsoft lançou em 1993 e ainda descreve orgulhosamente em seu site como "a marca de software de enciclopédia número 1 em vendas nos últimos oito anos". A Microsoft anunciou recentemente que as vendas da Encarta serão encerradas em breve e que o site da Encarta, pago com anúncios, será fechado ainda este ano.
É difícil olhar para o fim do experimento Encarta sem que a muito maior e gratuita Wikipedia venha à mente de imediato. Mas pode-se argumentar que a Encarta teria fracassado mesmo sem essa concorrência. Acessada pelo Google, a internet é uma espécie de enciclopédia virtual contra a qual a Encarta nunca teve chance de competir.
A Encarta foi concebida na era pré-web e teve gestação longa. Em 1985, Bill Gates visualizou uma enciclopédia em CD-ROM como produto de "preço alto e demanda alta" que teria o potencial de tornar-se tão lucrativo para a Microsoft quanto o Word ou o Excel. No início da história do projeto, foi criado um grupo de estudos com potenciais consumidores, e os participantes se disseram dispostos a pagar US$ 1.000 a US$ 2.000 por uma enciclopédia multimídia em CD-ROM. Na época, porém, ninguém previa a queda vertiginosa dos preços na economia da informação. Quando a Encarta finalmente ficou pronta, a Microsoft fixou seu preço em US$ 395.
A enciclopédia teve vendas fracas, e, segundo a Microsoft, seis meses depois de lançada tinha conquistado apenas 3% do mercado. Os gerentes de vendas da Microsoft suplicaram à empresa que lhes desse "uma Encarta por US$ 99". A equipe responsável pela Encarta cedeu, mas disse que a redução seria apenas temporária. Martin Leahy, gerente de vendas da Microsoft, disse a todos os colegas que quisessem ouvir: "Vocês percebem que o preço nunca mais vai subir, certo?" E o preço nunca voltou a subir.
A Encarta por US$ 99 foi um sucesso. Com o tempo, seu preço caiu ainda mais. No início deste ano, a Microsoft a vendia como produto descarregável, por US$ 29,95; mais recentemente, o valor foi reduzido para US$ 22,95.
Gary Alt, que entrou para a Microsoft em 1995 depois de trabalhar como editor na "World Book" e na "Encyclopedia Britannica", falou com orgulho sobre o trabalho editorial feito por ele e sua equipe na Encarta. No auge do investimento editorial da Microsoft na enciclopédia, em 2000, contou, a equipe contava com 50 pessoas.
Esse investimento parece ter passado despercebido. Tom Corddry, gerente-sênior na Microsoft entre 1989 e 1996, disse: "Os editores superestimaram a maneira como os estudantes diriam 'isso foi editado com muito cuidado! E é uma fonte autorizada!'".
A Encarta teria sido encerrada muito antes se não tivesse encontrado mercado em lugares do mundo que ficam fora do alcance da internet, disse Corddry.
Mas a Encarta se mostrou incapaz de competir com a web e o Google. A partir do momento em que a informação ficou disponível gratuitamente, o público não quis mais pagar por ela. Hoje são outros setores ligados à informação que se veem diante da mesma realidade, mas sem o respaldo financeiro garantido à Microsoft pelas franquias Windows e Office.


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