São Paulo, segunda-feira, 25 de maio de 2009

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Ciência e tecnologia

Cientista estuda insetos sociais, um a um

Por ADELE CONOVER

Anna Dornhaus espia em um pequeno ninho de papelão uma "família" de cerca de cem formigas das rochas europeias. Conhecidas como temnos, as formigas -pintadas com cores distintas- realizam suas tarefas de carregar, abastecer e alimentar a prole de larvas.
Ao lado de uma temnos colorida, um grão de arroz pareceria um tronco velho. Quando se levanta a tampa de uma colônia de formigas, nota-se uma barata morta -a ração das formigas. Uma rainha maior e tranquila, pintada de marrom, é objeto de estudo. "Ela não é exatamente uma chefe de Estado", disse Dornhaus. "Parece mais um ovário."
Ali perto há colmeias de abelhas sob vidro, onde cada abelha exibe um número de 1 a 100 em minúsculas etiquetas coladas a suas costas.
Para compreender o que realmente acontece em uma colônia de formigas ou abelhas, Dornhaus, professora-assistente de ecologia e biologia evolutiva na Universidade do Arizona, EUA, acompanha as pequenas criaturas individualmente -por isso a tinta e os números. As formigas, ela disse, têm "seus próprios cérebros e pernas, assim como reações complexas e flexíveis". Ela continua: "O comportamento de cada formiga e as regras segundo as quais ela age geram um padrão para a colônia, por isso é crucial descobrir sua técnica cognitiva individual".
Dornhaus, 34, uma cientista alemã alta e loura, tem muita paciência, requisito básico em seu ramo, e uma ligação com as criaturas que estuda. Quando as pessoas descobrem que "eu estudo formigas, abelhas e outras coisas que se arrastam, a primeira coisa que perguntam é como matá-las". Ela acrescentou: "Eu não diria mesmo que soubesse". Os insetos sociais, ela opinou, são "as criaturas mais interessantes que a evolução produziu".
Dornhaus fez contato com o Departamento de Sociobiologia e Fisiologia Comportamental da Universidade de Wurzburg, na Alemanha, chefiado por Bert Hölldobler, coautor do livro "The Ants" [As formigas] e do recém-publicado "The Superorganism".
Seu orientador de tese foi Lars Chittka, especialista na ecologia das capacidades sensoriais e cognitivas dos insetos, que estudava abelhas. Chittka -que disse que o grupo das abelhas do gênero Bombu, embora altamente social, era considerado primitivo em hábitos sociais- se perguntou por que uma única abelha, depois de voltar ao ninho, batia as asas e corria como louca em círculos. Logo as outras abelhas se excitavam e saíam do ninho.
Ele pediu que Dornhaus descobrisse o que acontecia. O experimento dela revelou que a abelha maluca estava fabricando e dispersando na colmeia um feromônio que alertava outras abelhas: "Ei, tem comida lá fora!"
Mas, como disse Dornhaus, "as abelhas não precisam se encontrar pessoalmente para se comunicar; elas deixam recados para as outras abelhas, dizendo que podem encontrar comida". Dornhaus está abrindo terreno com seus estudos sobre se a eficiência da sociedade de formigas, baseada em uma divisão do trabalho entre formigas especialistas, é importante para seu sucesso. Para isso, ela disse, "anestesiei brevemente 1.200 formigas, uma a uma, e as pintei usando tinta e um pincel de um único pêlo".
Ela analisou 300 horas de vídeo das formigas em ação. Descobriu que as formigas rápidas levavam de 1 a 5 minutos para realizar uma tarefa como coletar um pedaço de comida, enquanto as formigas lentas levavam entre 1 e 2 horas. E ela descobriu que cerca de 50% das outras formigas não faziam qualquer trabalho. Talvez a divisão de trabalho não seja a chave do sucesso das formigas. Possivelmente, disse Dornhaus, "as formigas preguiçosas estejam descansando ou esperando em reserva caso algo dê errado". Ou, conjecturou, "é possível que não estejam fazendo absolutamente nada".


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