São Paulo, segunda-feira, 25 de maio de 2009

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Ciência e tecnologia

Novos "ciberdetetives" buscam espiões à solta pela internet

Por JOHN MARKOFF

Para os detetives de antigamente, o problema sempre foi obter informações. Para os da era cibernética, que caçam provas no emaranhado de dados da internet, o desafio é outro. "O Santo Graal é como distinguir entre informação que é lixo e informação valiosa", disse Rafal Rohozinski, cientista social formado em Cambridge e envolvido em questões de segurança da informática.
Nos últimos oito anos, ele participou da criação de dois grupos com sede na Universidade de Toronto, o Information Warfare Monitor e o Citizen Lab, que se empenham em difundir ferramentas investigativas normalmente à disposição apenas de polícias e investigadores de segurança da computação. Eles já conseguiram êxitos importantes. No ano passado, Nart Villeneuve, 34, pesquisador de relações internacionais que trabalha para os dois grupos, descobriu que uma versão chinesa do software Skype estava sendo usada para fins de espionagem por uma das maiores operadoras de telefonia celular da China, provavelmente em benefício das autoridades locais.
Neste ano, ele ajudou a revelar um sistema de espionagem, que ele e outros pesquisadores apelidaram de "Ghostnet" ("rede fantasma"), que parecia ser uma operação de espionagem do governo chinês contra computadores no mundo todo, a maioria deles de propriedade de governos do sul da Ásia. Ambas as descobertas resultaram de um novo gênero de trabalho detetivesco e ilustram os trunfos e as limitações da investigação no ciberespaço.
O caso Ghostnet começou quando Greg Walton, editor da publicação "Infowar Monitor" e membro da equipe de pesquisa, foi convidado para realizar uma auditoria na rede do gabinete do dalai-lama, em Dharamsala, Índia. Sob ataque constante -possivelmente de hackers patrocinados pelo governo chinês-, os exilados haviam recorrido aos pesquisadores canadenses para ajudar a combater os espiões digitais que foram se implantando ao longo dos anos em seu sistema de comunicações.
Tanto no escritório particular do dalai-lama quanto na sede do governo tibetano do exílio, Walton usou um poderoso programa chamado Wireshark para capturar o tráfego digital que entra e sai dos computadores dos grupos exilados.
Em quase todos os casos, quando os administradores do sistema Ghostnet ocupavam remotamente um computador, eles instalavam um software chinês clandestino que permitia o controle de uma máquina distante por meio da internet.
A espionagem gerou preocupação imediata entre os tibetanos.
De volta ao Canadá, Walton compartilhou os dados capturados com Villeneuve, e os dois usaram uma segunda ferramenta para analisar as informações. Villeneuve estava usando esse software para visualizar os arquivos quando notou uma sequência aparentemente inócua, mas intrigante, de 22 caracteres que se repetiam em diferentes arquivos. Desconfiado, colocou a sequência no Google e foi imediatamente direcionado para arquivos semelhantes, armazenados num vasto sistema digital de vigilância localizado na ilha de Hainan, na costa da China. Os arquivos tibetanos estavam sendo copiados para esses computadores. Mas os pesquisadores não conseguiram determinar com certeza quem controlava o sistema.
A questão mais irritante para as autoridades e para outros investigadores do ciberespaço é a da "atribuição". A famosa charge em que um cão se senta ao teclado e diz para um amigo que "na internet ninguém sabe que você é um cachorro" não é piada para os ciberdetetives.


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