São Paulo, segunda-feira, 25 de julho de 2011

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ENSAIO
ANNE KREAMER


Lágrimas na mesa ao lado: as emoções no ambiente de trabalho

Quando me formei na faculdade, em 1977, o mundo ainda estava claramente dividido em duas esferas: trabalho e tudo o mais. O trabalho deveria ser um reino hiper-racional de lógica, cheio de horários, tabelas e retornos de investimentos. Era só fora do trabalho que as emoções -tão perigosamente mal definidas e imprevisíveis- deveriam emergir.
Mas desde o primeiro dia em meu primeiro emprego real, como assistente administrativa na sede de um banco comercial, percebi que as emoções estavam presentes no local de trabalho.
Minha mesa ficava perto da porta dos banheiros (eu era a mais baixa na hierarquia).
Com intervalos de dias, uma das três executivas do meu andar entrava correndo no banheiro e, depois de um período um pouco demorado, ressurgia com claros vestígios de choro no rosto. Eu também via homens correrem para o banheiro masculino e saírem brancos, de lábios apertados.
Mesmo como uma neófita de 21 anos no emprego, percebi que a emoção é uma força subjacente a todos os nossos comportamentos. Para meu livro, "It's Always Personal: Emotion in the New Workplace" (É sempre pessoal: Emoção no novo local de trabalho), passei dois anos explorando as atitudes dos americanos em relação à emoção no trabalho hoje, e minhas conclusões sugerem esta versão emendada da famosa frase de Descartes: "Penso e sinto, logo existo".
Nos velhos tempos pré-internet e pré-celular, era muito mais fácil acreditar em "trabalho igual a racional" e "casa igual a emocional". Mas hoje que a vida no trabalho e em casa se misturam constantemente essa distinção tornou-se anacrônica e provavelmente errada.
As membranas entre a vida privada e o trabalho, especialmente o trabalho em escritório, sempre foram poderosas, mas hoje patrões e empregados esperam sensibilidade e responsabilidade mais ou menos 24 horas por dia.
E quanto mais relegamos a comunicação ao reino eletrônico, maior nosso desejo de um contato face a face. Pode parecer que nossas novas estruturas organizacionais "planas" no trabalho promovem um nível mais descontraído de expressão emocional.
Mas as organizações mais planas exigem níveis ainda mais altos de competência e esforço emocional para navegar por estruturas de comando amorfas.
Ninguém mais tem certeza de onde estão as linhas divisórias. É legal fazer piadas com o chefe? E se ouvirmos um homem chorando no cubículo ao lado?
Regras claras para esse novo mundo laboral simplesmente não existem. Mas uma coisa é certa. Os milenares, uma geração que cresceu com a transparência emocional nua de mensagens de texto e redes sociais 24 horas por dia, hoje estão entrando na força de trabalho.
Enquanto eles substituem a geração dos anos 1940 e 50, não há como voltar a um mundo compartimentado.
Eu gosto de imaginar que se homens e mulheres expressassem mais emoção habitualmente e com maior facilidade no trabalho, talvez não nos sentíssemos de modo geral tão cronicamente ansiosos e esgotados.


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