São Paulo, segunda-feira, 25 de outubro de 2010

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LENTE

Atraindo mais dificuldades e problemas

Christine O'Donnell olhou francamente para a câmera para um anúncio de campanha este mês e proclamou: "Não sou bruxa".
Pode ter sido inédito na política americana, pelo menos desde o final dos anos 1600, mas a candidata republicana por Delaware estava se esforçando para proteger sua candidatura ao Senado dos Estados Unidos. A confusão foi causada por um videoclipe de 1999 em que ela admitiu ter "mexido com bruxaria". E sua qualificação de que "nunca participei de uma convenção de bruxas" foi levada tão a sério quanto a afirmação de Bill Clinton de que "não tragou".
Mas, apesar de os feitiços, poções mágicas e rituais pagãos serem raros nos salões do poder, ainda são praticados por muitas pessoas no mundo. Símbolos do ocultismo são fáceis de encontrar, especialmente hoje em dia, com Halloween chegando no final do mês e a comemoração mexicana do Dia dos Mortos logo depois.
Um empório no bairro do Bronx em Nova York, com o nome inócuo de Companhia de Produtos Originais, é um de muitos estabelecimentos que oferecem ervas, amuletos, removedores de feitiços e bonecos de vodu, baseados em práticas ocultas usadas nas religiões afro-cubanas e outras tradições que incluem santería, vodu e wicca.
Cecilia Oliver, que estava tendo problemas com o namorado, visitou a loja recentemente. "Ele está resistente", disse. "Quero que ele seja submisso a mim o tempo todo." Mario Allai, um sacerdote de santería que trabalha na loja, lhe receitou um amuleto mágico para ser colocado sob a sola do sapato, relatou o "Times".
Seguidores de religiões baseadas no ocultismo dizem que elas muitas vezes são mal compreendidas e tomadas por satânicas. Os wiccans, por exemplo, salientam que sua principal ênfase é o culto à natureza.
"Os wiccans têm muitas coisas levantadas contra eles", disse ao "Times" David Steinmetz, professor de história da cristandade na Universidade Duke, na Carolina do Norte. "Desde o que diz a Bíblia sobre a prática de magia até a história deste país, com seus julgamentos de bruxas."
Na maioria dos países, pelo menos, as bruxas não são mais afogadas, queimadas na fogueira ou torturadas.
Na maioria, mas não em todos.
"Salvando as Crianças Bruxas da África", um documentário exibido na HBO no início deste ano, fez uma crônica da perseguição de suspeitos de bruxaria. Como relatou o "Times", o filme acompanha Gary Foxcroft, fundador da instituição de caridade Stepping Stones Nigeria, pelo estado de Akwa Ibom, onde as crianças enfrentam cruéis "exorcismos".
Como em Salem, Massachusetts, nos anos 1600, basta a palavra de um pregador acusando as crianças de estar possuídas. A "cura" pode envolver banhos com ácido, ser enterrada viva, mergulhada no fogo ou abandonada.
Em outros lugares da África, antigas práticas ocultistas continuam presentes entre as grandes religiões.
No Benim, Dah Aligbonon Akpochihala, um sacerdote vodu, prega as tradições nas ondas aéreas. "Quando Aligbonon fala no rádio, ninguém dorme", disse ao "Times". "As pessoas têm fome dos meus programas."
Christine O'Donnell está indo mal em sua candidatura, mas vai descobrir em 3 de novembro se seus esforços nas ondas aéreas acalmaram os receios dos eleitores de Delaware.
Enquanto isso, ela tem ajudado muito os comediantes americanos. No programa satírico "Saturday Night Live", uma atriz interpretando O'Donnell anunciou inocentemente: "Não sou uma bruxa". Então, enquanto a câmera se afastava para mostrar uma decoração de Halloween com esqueletos e caveiras, a atriz acrescentou com uma expressão maliciosa: "Mas se eu for, quem vai querer me enfrentar?"


KEVIN DELANEY
Envie comentários para nytweekly@nytimes.com.




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