São Paulo, segunda-feira, 25 de outubro de 2010

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Uvas passas levam esperança a afegãos

Produto volta à Grã-Bretanha após décadas de guerras

Por GAYLE TZEMACH LEMMON
CABUL - Durante décadas antes de a guerra dizimar a infraestrutura e as terras do Afeganistão, o país produzia 10% das uvas passas do mundo, exportadas para países como Grã-Bretanha, Índia e ex-União Soviética. O auge da produção, em 1981, foi de 86 mil toneladas, antes de despencar para menos de um quarto disso ao final daquela década, e as exportações pararem.
Graças a uma inusitada aliança entre agricultores afegãos, a ONG Mercy Corps, de Portland (Oregon), e a Fullwell Mill, fábrica britânica de alimentos, as passas produzidas no país voltarão a encher as prateleiras do Reino Unido em novembro.
A empreitada é parte de um esforço para levar as práticas e os lucros do chamado "comércio justo" ao Afeganistão. Os participantes também esperam promover a prosperidade e estabilidade de aldeias afegãs, por meio da reconstrução e melhoria dessa atividade comercial, outrora fonte de orgulho para os locais.
"Queremos encontrar muito mais mercados estrangeiros -essa é a nossa esperança", disse Haji Hamidullah, escolhido por seus colegas para presidir a cooperativa dos produtores da Província de Parwan. "Quando recebemos tantos benefícios com nossos produtos, podemos melhorar toda a nossa vida: nossas casas, nosso maquinário, nossa educação."
Enquanto o Afeganistão ainda sofre para se recuperar da guerra, seus produtores rurais também têm dificuldade para levar suas mercadorias para além do Paquistão, o que os deixa à mercê dos mercados e preços locais. Então o Mercy Corps, em parceria com a Fullwell Mill, se dispôs a mudar isso.
"Chegamos aos agricultores e perguntamos: 'Vocês querem exportar passas? Se quiserem, se esforcem ao máximo, podemos encontrar um bom mercado para vocês'", disse Aman Taheri, coordenadora de programa do Mercy Corps em Cabul.
"Contamos a eles que nossa estratégia era aumentar seu conhecimento e suas vendas, e ajudá-los a fazer contatos: do fazendeiro para o negociante, para o comprador e para o processador."
A iniciativa, que inclui dois meses de treinamento técnico para 300 agricultores da província, é parte de um programa de três anos e US$ 2 milhões do Mercy Corps, iniciado em junho de 2008 com verba da Usaid (agência de desenvolvimento internacional dos EUA).
A época de cultivo das uvas dura cerca de seis meses, da primavera ao começo do outono, e o processo de secagem das passas exige mais quatro a cinco semanas.
A meta do projeto é promover treinamento, emprego e vendas para os participantes afegãos envolvidos na cadeia econômica da uva e da romã.
Embora bilhões de dólares já tenham sido gastos nos programas de desenvolvimento no Afeganistão desde 2002, poucos tiveram essa ligação direta com o mercado internacional.
Antes, no entanto, veio o desafio de fazer os produtores adotarem novas técnicas e padrões agrícolas, para que sua mercadoria fosse competitiva no exterior. E convencê-los de que poderiam realmente confiar nos estrangeiros que prometiam voltar na época da colheita para comprar a produção.
Os agricultores dizem que toda essa educação foi uma dádiva para a produção e para suas famílias. Agora que sabem que o pessoal da Fullwell Mill merece confiança, eles esperam que isso seja só o começo.
Depois dos 35 produtores que inicialmente aceitaram testar as novas técnicas, mais de 200 já aderiram.
"Os agricultores têm a garantia de uma série de coisas, como quotas razoáveis do que estamos dispostos a comprar deles, e sabem de antemão que tem preços garantidos e um adicional assegurado pela certificação Fairtrade [comércio justo]", disse Richard Friend, sócio da Fullwell Mill.


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