São Paulo, segunda-feira, 25 de outubro de 2010

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AMERICANAS

De costa a costa, doloroso processo de recuperação

Por MICHAEL POWELL e MOTOKO RICH
Os Estados Unidos estão mergulhados em um sombria Nova Normalidade que poderá durar anos. Chame-a de recessão ou de recuperação, não faz muita diferença para dezenas de milhões de americanos.
Nascida de um colapso financeiro recorde, esta recessão foi mais grave que qualquer outra desde a Grande Depressão e deixou um enorme excedente de casas e prédios de escritórios e uma dívida paralisante. A economia nacional caiu tanto que poderá levar anos para voltar a subir.
"Não admira que os americanos estejam pessimistas e infelizes", disse Allen L. Sinai, economista-chefe global da firma de consultoria Decision Economics.
Essa imagem terrível não deve sugerir que o país está sem forças. Os índices de desemprego caíram de seus picos. O tráfego nos portos aumentou, e os empregadores criaram em média 68.111 empregos por mês este ano.
Mas novos choques poderão empurrar o país para outra recessão ou deflação. Assim, os problemas se propagam enquanto as perdas de empregos, as casas não vendidas e os escritórios vazios pesam sobre a economia e arrasam vidas. As dificuldades no Arizona, Nova Jersey e Geórgia têm amplo eco.

Florence, Arizona
Em 2005, o Arizona se classificou, como de hábito, em segundo lugar nacional em crescimento de empregos, atrás de Nevada. A construção florescia, e a terra se estendia, interminável e barata.
Este ano, o Arizona está em 42° lugar em crescimento de empregos. Perdeu 287 mil postos de trabalho desde o início da recessão, e a queda foi calamitosa.
O índice de pobreza no Arizona saltou para 19,6%, o segundo maior do país depois do Mississippi. A Associação de Bancos de Alimentos do Arizona disse que a demanda quase duplicou nessas instituições beneficentes.
Elliott D. Pollack, um dos principais analistas econômicos do Estado, disse: "Houve uma implosão de todos os setores necessários para a sobrevivência. E isso não vai melhorar depressa".
Em toda parte, há loteamentos no deserto, alguns semiconstruídos. Placas oferecem descontos. Mas os descontos não ajudam quando a renda do indivíduo foi cortada pela metade.
Na cidade de Coolidge, a demanda triplicou no centro de doação de alimentos Tom Hunt. Em alguns dias, ele fica sem nada.
Henry Alejandrez, 60, é um telhadista que migrou do Texas em busca de trabalho. "Sou cidadão americano, e a gente tem sorte quando consegue o salário mínimo", disse.
Mary Sepeda, sua irmã, concorda. Ela costumava limpar casas recém-construídas antes que fossem vendidas. Esse emprego evaporou. "Está ficando uma loucura", diz. "Como isto vai acabar?"
A pergunta vai para Pollack, o analista e previsor.
"Estou prevendo a recuperação para 2013 ou 2015", ele diz.

Cherry Hill, Nova Jersey
Um mal-estar se instalou sobre este subúrbio junto à divisa de Filadélfia. Os preços das casas caíram 16% desde 2006.
James e Patricia Furrow compraram a sua, de quatro quartos, em estilo colonial, perto do topo do mercado em 2005, por US$ 289 mil. Furrow, 48, se aposentou em julho depois de 26 anos como oficial de condicionais e complementa sua aposentadoria trabalhando como faz-tudo. Mas tem uma renda variável, e sua mulher não ganha o suficiente para pagar a hipoteca da casa onde moram com os três filhos.
Eles já estão com uma prestação atrasada e querem vender a casa na esperança de que seu credor perdoe a diferença entre o balanço do empréstimo e o preço de venda menor. Eles estão pedindo US$ 279 mil.
"Quando nós compramos, o mercado ainda se movimentava muito bem", disse Furrow. "Então chegou ao ponto em que as pessoas disseram que não ia durar. E é claro que não durou."
Algumas das casas oferecidas por preços com desconto estão puxando para baixo os preços para proprietários em menor dificuldade, mas que querem vender.
Então as casas aguardam. Aqui no condado de Camden, o desemprego está em 10%. Vários grandes empregadores fecharam ou efetuaram demissões; outros reduziram os horários de trabalho.

Atlanta, Geórgia
Há muito tempo crescendo depressa, Atlanta sempre se reergueu como uma fênix. Mas esta recessão deixou os imóveis comerciais e condomínios de luxo de Atlanta em coma econômico. Líderes do setor dizem que poderá levar 12 anos para que a cidade absorva o excesso de espaço comercial. "Aquele lá, está vendo?", diz Alan Wexler, um analista de dados imobiliários, apontando para uma torre azul reluzente enquanto dirige. "Um banco de Chicago o tomou há seis meses. Vendeu com 40% de desconto." Chegando ao centro, Wexler aponta para um prédio de mármore branco. "Está vendo esse? É o Federal Reserve. É ali que eles se sentam, suam e se perguntam: 'Como foi possível chegar a essa confusão?'"


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