São Paulo, segunda-feira, 25 de outubro de 2010

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Uma nova vida sem adotar um novo nome

Por SAM ROBERTS
Para muitos imigrantes dos séculos 19 e 20 ou para seus filhos, foi um ritual de passagem: nos Estados Unidos, eles adotavam uma nova identidade.
Charles Steinweg, o fabricante de pianos nascido na Alemanha, mudou seu sobrenome para Steinway. Anne Bancroft, a atriz nascida no Bronx, era Anna Maria Louisa Italiano.
A explicação era simples: adotar nomes que soavam mais americanos poderia ajudar os imigrantes a evitar a discriminação. Hoje, a maioria dos especialistas concorda que esse tradicional estratagema dos imigrantes praticamente desapareceu.
Sociólogos dizem que os EUA são um país mais pluricultural e acrescentam que misturar-se através da mudança de nome não é tão eficaz para asiáticos e latino-americanos, que podem ser mais facilmente identificados por características físicas do que alguns europeus o eram no século 19 e início do 20.
Pelo menos em certas circunstâncias, a ação afirmativa e programas de igualdade semelhantes transformaram a identidade étnica em um possível capital.
Douglas S. Massey, sociólogo da Universidade Princeton, em Nova Jersey, sugeriu que os recém-chegados do exterior não sentiram mais pressão para mudar seus sobrenomes a partir "dos anos 1970 e 80, conforme a imigração se tornou parte da vida americana e o movimento pelos direitos civis legitimou o orgulho de grupo como algo a ser cultivado".
Um século atrás, alguns nomes foram simplificados por agentes de imigração quando os viajantes embarcavam na Europa. Outros foram transliterados, mas raramente modificados, por autoridades de imigração na ilha Ellis, em Nova York. Muitos recém-chegados mudaram seus nomes legalmente, de Sapusnick para Phillips ("nome difícil de pronunciar, interfere com seus negócios", segundo uma nota legal), de Laskowsky para Lake ("antigo nome não americano") e de Katchka para Kalin (Katchka significa "pato" em ídiche, e um certo senhor Katchka foi "submetido a ridicularização e incômodo").
A maioria dos pedidos parece ter sido concedida, via de regra, mas recentemente, em 1967, um juiz civil do Brooklyn se recusou a alterar o sobrenome de Samuel Weinberg para Lansing, "por futuros motivos de negócios, para que meus filhos não sofram qualquer estigma possível". O nome do juiz era Jacob Weinberg.
Nancy Foner, professora de sociologia no Hunter College da City University de Nova York, disse: "Os judeus e os italianos costumavam modificar seus sobrenomes para que as pessoas não os identificassem como tais, sendo os casos mais famosos os dos astros de cinema. Mas, do ponto de vista fenotípico, os não brancos -asiáticos, por exemplo, ou negros- mudarem de sobrenome não vai fazer diferença. Betty Joan Perske tornou-se Lauren Bacall, e a maioria das pessoas não sabia que ela era judia; qualquer que fosse o nome usado, Lena Horne era negra".
Lisa Chang, cujos pais chegaram da Coreia em 1976, havia pensado que se casaria com um coreano, mas decidiu manter o nome de solteira quando se casou com um caucasiano.
"Eu senti que perderia uma parte de mim mesma e minha herança coreana", disse Chang, 28. "Ninguém me disse na verdade que eu devia mudar de sobrenome, mas senti certa pressão de meus futuros sogros."
Mesmo hoje, encontrar o nome adotivo pode ser um problema. Há não muito tempo, David M. Glauberman, executivo de relações públicas de Manhattan, se cansou de ter de soletrar seu nome cada vez que deixava uma mensagem telefônica. Então mudou legalmente o sobrenome para Grant. Na primeira vez em que deixou um recado, a secretária perguntou: "É Grant com 't' ou com 'd'?"


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