São Paulo, segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

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Ciência e Tecnologia: Gadgets

Após início morno, e-book ganha fãs

Por BRAD STONE e MOTOKO RICH

Os bibliófilos estarão preparados, finalmente, a passar do papel aos pixels? Há uma década os consumidores vêm praticamente ignorando os livros eletrônicos, frequentemente difíceis de usar e que oferecem poucos livros populares para o leitor. Recentemente, porém, o e-book, ou livro eletrônico, começa a ganhar aceitação -em parte devido à popularidade do Kindle, o e-book sem fio da Amazon.
Lançado há um ano, o Kindle custa US$ 359, é fino, branco e tem mais ou menos o tamanho de um livro de bolso. Embora a Amazon não revele cifras de vendas, o aparelho pelo menos vem cumprindo o que promete seu nome (que significa "pôr fogo"): gerou amplo interesse por livros eletrônicos. Está fora de estoque, e só haverá mais exemplares em fevereiro. Analistas atribuem o sucesso de vendas à apresentadora Oprah Winfrey, que elogiou o Kindle em seu programa em outubro, e criticam a Amazon, dizendo que ela não fez um planejamento adequado para o período de compras do fim de ano.
A falta de Kindles à venda deu abertura à Sony, que fez intensa campanha publicitária de seu artefato, o Reader, em dezembro. A concorrência pode representar a maturidade do próprio conceito da leitura de textos longos em artefatos digitais portáteis.
"A percepção comum é que os e-books existem há dez anos e ainda não decolaram", disse Steve Haber, presidente da divisão de leitura digital da Sony. "Mas isso está acontecendo agora. A ideia está realmente começando a pegar fogo."
Os esforços da Sony foram ofuscados pelos da Amazon. Mas em dezembro a empresa lançou uma blitz de divulgação de seu produto em aeroportos, estações de trem e livrarias dos EUA, com a meta ambiciosa de mostrar pessoalmente o uso do Reader a 2 milhões de pessoas.
O modelo mais recente oferecido pela empresa, o Reader 700, custa US$ 300 e tem luz de leitura e tela "touch screen" que permite que o usuário faça anotações no que está lendo. Haber disse que as vendas da Sony no fim de 2008 foram três vezes maiores que no fim do ano anterior, em parte porque o aparelho já pode ser encontrado em grandes redes de varejo como Target e Sam's Club. Ele disse que, desde o lançamento do Reader original, em 2006, a Sony já vendeu mais de 300 mil unidades do produto.
É difícil quantificar o sucesso do Kindle, já que a Amazon não revela quantos já vendeu e as estimativas dos analistas variam. Peter Hildick-Smith, presidente da Codex Group, firma de pesquisas de mercado editorial, acredita que a Amazon já tenha vendido até 260 mil unidades desde o início de outubro, antes do endosso de Oprah Winfrey. Outros aventam que o número pode chegar a 1 milhão.
Muitos compradores do Kindle parecem não fazer parte da faixa populacional habitualmente obcecada por novidades tecnológicas. Segundo Hildick-Smith, quase tantas mulheres quanto homens compram o Kindle, e o aparelho é mais popular entre consumidores de 55 a 64 anos.
Editoras como HarperCollins, Random House e Simon & Schuster dizem que as vendas de livros eletrônicos para qualquer aparelho, incluindo os simples downloads em laptops, constituem menos de 1% das vendas totais de livros. Mas há sinais de que esse número possa crescer. As editoras dizem que as vendas de e-books triplicaram ou quadruplicaram no último ano.
Até mesmo autores antes receosos de vender suas obras em bits e bytes estão se rendendo à novidade. Após alguma hesitação inicial, autores de best-sellers como Danielle Steel e John Grisham devem, em breve, acrescentar seus títulos aos catálogos de e-books, dizem seus agentes.
"E-books se tornarão o formato preferencial de um grupo crescente de leitores que estão descobrindo que curtem ler livros numa tela", disse Markus Dohle, executivo-chefe da Random House, maior editora mundial de livros.
Outro incentivo aos e-books este ano veio do iPhone, da Apple. Vários programas de leitura de e-books foram criados para o aparelho, e pelo menos dois deles, o Stanza, da LexCycle, e o eReader, da Fictionwise, já foram descarregados mais de 600 mil vezes. Outra companhia, a Scroll Motion, anunciou recentemente que começará a vender e-books para o iPhone de grandes editoras, como Simon & Schuster, Random House e Penguin.
Essas empresas dizem que já estão customizando seus softwares para outros tipos de smartphones, incluindo Blackberrys. As editoras dizem que esses aplicativos do iPhone já começam a gerar quase tantas vendas de livros digitais quanto o Sony Reader, embora ainda percam para as vendas de livros no formato Kindle.
A designer gráfica MaryAnn van Hengel, 51, de Nova York, chegou a criticar os aparelhos numa reunião do clube de leitura que frequenta. Mas adorou o Kindle que seu marido lhe deu. Ela disse que o Kindle a incentivou a comprar mais livros do que compraria normalmente em papel.
"Posso hesitar em levar o Kindle ao clube de leitura porque tantas das mulheres eram contra a tecnologia, e eu disse que também era", comentou a designer. "Mas cá estou, apaixonada por ela."


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