São Paulo, segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

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Tecnologia para cegos complementa trabalho do cão-guia

Por MIGUEL HELFT

MOUNTAIN VIEW, Califórnia - T. V. Raman foi uma criança introvertida que muito cedo desenvolveu o amor pela matemática e pelos quebra-cabeças. Essa paixão não mudou depois que o glaucoma tirou sua visão, aos 14 anos. O que mudou foi o papel da tecnologia -e de suas próprias invenções- para ajudá-lo a perseguir seus interesses.
Natural da Índia, Raman precisou de voluntários para ler seus livros em uma universidade técnica de elite em seu país, mas hoje leva uma vida praticamente autônoma no Vale do Silício, onde é um cientista da computação muito respeitado e um engenheiro na Google.
No trajeto, ele construiu uma série de ferramentas para ajudá-lo a aproveitar objetos ou tecnologias que não foram projetados especialmente para usuários cegos. Elas vão de um cubo de Rubik coberto em braile a um software que pode ler em voz alta complexas fórmulas matemáticas, que foi o tema de sua dissertação de doutorado na Universidade Cornell em Ithaca, Nova York. Ele também construiu uma versão do serviço de buscas Google especial para usuários cegos.
Raman, 43, hoje trabalha para modificar o último artefato tecnológico que, segundo ele, poderá facilitar a vida dos cegos: um telefone com tela de toque (touch-screen).
"Ele é um importante pensador sobre questões de acessibilidade e tem uma capacidade única para projetar e modificar a tecnologia para suprir suas necessidades", disse Paul Schroeder, vice-presidente de programas e políticas da Fundação Americana para os Cegos, que pesquisa tecnologia para ajudar os deficientes visuais.
Algumas inovações de Raman poderão tornar os aparelhos eletrônicos e serviços da web mais amigáveis para todo o mundo. Ele diz que, em vez de perguntar como uma coisa deveria funcionar se uma pessoa não enxerga, prefere perguntar: "Como uma coisa deveria funcionar quando o usuário não está olhando para a tela?" Esses sistemas poderão ser úteis para motoristas ou qualquer pessoa que se beneficie do acesso ao telefone sem usar os olhos.
Raman disse que, com as adaptações certas, os telefones touch-screen podem ajudar os cegos a navegar pelo mundo. "Não é tão difícil perceber que seu telefone poderia dizer: 'Ande em linha reta e daqui a 50 metros você chegará ao cruzamento das ruas X e Y?'", disse Raman. "É totalmente possível."
Raman divide uma área de trabalho na Google com Hubbell, seu cão-guia, e Charles Chen, 25, um engenheiro que enxerga. Recentemente, os dois acrescentaram atalhos de teclado que ajudam usuários cegos ou com pouca visão a navegar rapidamente pelos resultados das buscas do Google.
Agora grande parte de seu esforço se concentra em telefones touch-screen. Raman e Chen estão trabalhando em maneiras para permitir que cegos, ou qualquer um que não esteja olhando para a tela, possam digitar texto, números e comandos.
O que poderá se tornar a tecnologia móvel mais desafiadora -um telefone capaz de reconhecer e ler placas através de sua câmera- talvez ainda demore alguns anos, disse Raman. Mas alguns dispositivos já podem ler texto dessa maneira. Como os usuários cegos não sabem onde estão as placas, não podem apontar a câmara para elas ou alinhá-la adequadamente, disse Raman. Quando os chips se tornarem ainda mais poderosos, serão capazes de detectar a localização de uma placa e ler o texto, ele disse.
Raman defende que os benefícios serão amplos. "Se existir uma tecnologia capaz de reconhecer uma placa de rua enquanto você dirige, será útil para todos", ele disse. "Num país estrangeiro, ela o traduzirá."


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