São Paulo, segunda-feira, 26 de julho de 2010

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Grupo escapa de modismos da salsa

Por LARRY ROHTER

Em seus shows na Europa, a orquestra de 11 instrumentistas La Excelencia frequentemente é apresentada ao público como sendo um grupo que encarna "a salsa de Nova York".
Em sua própria cidade, contudo, o som duro e intransigente do grupo e seu pendor por letras que tratam de problemas sociais levaram tradicionalistas a enxergá-lo como estando fora do "mainstream" da salsa. Uma das canções que são sua marca registrada, "La Lucha" (A Luta), mistura o danzón cubano, a bomba porto-riquenha e a cumbia colombiana.
"É importante para nós dar destaque a todos da banda e que nossas canções sejam para toda a América Latina", disse José Vázquez Cofresí, que toca conga. Julián Silva, que toca os timbales, acrescentou: "É por isso que chamamos de salsa o que fazemos. É uma mistura da música de todo o mundo. Por que nos impormos limites?".
O ecletismo retrô do La Excelencia, fundado em 2005 por Vázquez e Silva, se estende a seus integrantes. Os membros da banda, com idades que variam entre 26 e 35, são de origem porto-riquenha, cubana, dominicana, colombiana, argentino-equatoriana e japonesa (além de um tocador de trompete nascido na Flórida) e sabem fundir estilos sem que isso se torne aparente.
Em lugar de focar os holofotes sobre um vocalista bem vestido, o La Excelencia opera como um coletivo. Em vez de compor canções de amor melosas, conforme requer o estilo de salsa romântica dominante há um quarto de século, o grupo canta sobre a imigração, a discriminação e a pobreza. No lugar de sintetizadores e cordas, o La Excelencia destaca a percussão e os metais ritmados, como uma banda da Fania Records na época áurea do gênero, os anos 1970.
"O La Excelencia representa algo muito significativo, um retorno não apenas à fórmula clássica da salsa, mas às suas qualidades", disse Aaron Levinson, produtor premiado com o Grammy que é conhecido sobretudo por seu trabalho com a Spanish Harlem Orchestra.
"A diferença realmente crítica é que o grupo também retorna a um período mais eclético, em que a salsa era música de rua, tocando com espírito e integridade e voltando a fazer música socialmente relevante." Vázquez e Silva se conheceram quando eram adolescentes e integraram uma delegação que viajou para ver o papa João Paulo 2°, na visita que o pontífice fez aos Estados Unidos em 1993.
Vázquez, que tem 34 anos de idade e origem porto-riquenha, e Silva, 32, que nasceu em Cali, na Colômbia, eram membros da banda Los Calientes del Son, que percorreu o sul dos Estados Unidos tocando "tudo, desde salsa a rock, jazz e até mesmo country", recordou Vázquez.
Em 2000, eles se mudaram para Nova York e, pouco depois, fecharam um contrato para gravar um CD de salsa. Mas, contou Silva, que se diplomou em psicologia e já trabalhou com pesquisas sobre câncer, "nos cansamos do tipo de regras que nos eram impostas pelo fato de seremos um grupo de salsa. Nos mandavam cantar sobre amor, e não [sobre] protesto, ser arrumadinhos e cantar para as mulheres. José e eu estávamos fartos".
Com seu selo próprio, Handle With Care, o La Excelencia já lançou dois CDs cujos títulos dão uma ideia da filosofia do grupo: "Salsa com Conciencia" e "Mi Tumbao Social", ou "minha batida de tambor social". A banda também vem fazendo uso extenso de YouTube, Facebook, MySpace e outras mídias sociais para divulgar sua música.
Em termos comerciais, contudo, o caminho pelo qual ela optou não tem sido fácil. A insistência do La Excelencia em "fazer o que queremos, do jeito que queremos e sem nos preocuparmos com qualquer outra coisa", nas palavras de Silva, valeu a ela uma base de fãs dedicados, mas ainda não lhe proporcionou sucesso ou aclamação muito grandes. Nenhum dos CDs vendeu mais de 15 mil cópias até agora.
"Esta é uma banda que com certeza pode fazer sucesso em festivais da Europa, porque lá há uma comunidade enorme que apoia esse tipo de coisa. Mas, aqui nos Estados Unidos, não é fácil", comentou Sergio George, produtor conhecido principalmente por seu trabalho com Marc Anthony.
"A verdade é que o La Excelencia é um misto de retrô e contemporâneo", disse Pablo Yglesias, autor de "The Rough Guide to Salsa". "Acho que eles se veem simplesmente tocando música de alta qualidade e não ligando para modismos, de modo que, nesse sentido, são inovadores."


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