São Paulo, segunda-feira, 27 de junho de 2011

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

PERFIS

BING WEST

Crítico da guerra do Afeganistão está sempre em combate

Por ELISABETH BUMILLER
NEWPORT, Rhode Island - Bing West já escalou montanhas no Afeganistão com tropas de combate americanas, viu granadas propelidas por foguetes passarem sobre sua cabeça e chegou perto de morrer de cólera. Magro e resistente aos 70 anos, ele consegue esquivar-se de balas com a mesma facilidade dos rapazes de 20 anos que acompanha em patrulhas de infantaria a pé, embora admita que, para isso, costume sair sem a armadura corporal utilizada pelos soldados e use um boné dos Boston Red Sox no lugar do capacete.
Ele não consegue imaginar uma vida melhor.
West voltou para sua casa no estreito de Rhode Island no início desta primavera americana, entre viagens ao Afeganistão, para falar do seu livro "The Wrong War" (a guerra errada). É um volume que chegou na hora errada para a Casa Branca e o Pentágono, no momento em que enfrentam o início de uma retirada das tropas do Afeganistão, em julho. O secretário da Defesa, Robert M. Gates, vem argumentando contra uma retirada substancial de tropas.
No livro, cujo subtítulo é "Grit, Strategy and the Way Out of Afghanistan" (garra, estratégia e o caminho para sair do Afeganistão), West defende as Forças Armadas, mas argumenta que os EUA estão queimando bilhões de dólares em uma tentativa de construir nações na Ásia central.
Ele diz que a estratégia de contra-insurgência por trás da guerra -o esforço de conquistar a adesão dos afegãos, protegendo-os contra o Taleban e construindo estradas, escolas e instituições civis- é um fracasso. "A pergunta não é o que fazem os marines ou o Exército, é o porquê eles o estão fazendo e qual é a finalidade última?", disse West. "Minha objeção é que eles ficaram no país para tornarem-se o governo."
A Casa Branca não fez comentários. O secretário de imprensa do Pentágono, Geoff Morrell, disse apenas que o livro, que se encerra com os fatos do outono passado, "não reflete a situação no Afeganistão". Gates defende a estratégia da contra-insurgência.
Bing West, cujo livro vem recebendo críticas estelares, seria mais fácil de ser descartado, não fosse por seu histórico: secretário assistente de Defesa na administração Reagan, oficial de infantaria dos marines no Vietnã e autor de "The Village", um clássico de guerra que passou 40 anos na lista de leituras do corpo de marines.
West escreveu três livros recentes sobre o Iraque, frutos de 20 meses passados acompanhando tropas americanas nesse país. Ele começou a escrever reportagens sobre o Afeganistão em 2008 e, no momento, está acompanhando um pelotão de marines em Sangin, na província de Helmand, um dos lugares onde a guerra vem sendo mais sangrenta.
Em sua visão, a estratégia de contra-insurgência no Afeganistão é uma "teologia" liberal, benevolente, que está convertendo as Forças Armadas dos EUA no Corpo da Paz e enfraquecendo sua "competência principal" -a violência. West argumenta que os EUA deveriam reduzir seu contingente no Afeganistão para 50 mil soldados, enfocar na eliminação do Taleban, enviar assessores americanos em pequeno número para o combate ao lado dos afegãos e parar de gastar dinheiro a rodo para ajudar um governo corrupto. Seu argumento é recebido com exasperação por comandantes americanos no Afeganistão. Para eles, o livro de West não leva em conta a combinação de combate e reconstrução que vem rendendo progressos nas províncias de Helmand e Kandahar.
West disse que se sente em casa no campo de batalha e aceitou sem pestanejar os riscos, incluindo o de não usar proteções corporais. "Ninguém as usava no Vietnã, pois elas não protegiam contra balas". As chapas duras empregadas hoje conseguem impedir a passagem de projéteis, mas, para West, prejudicam a mobilidade. "Conheço combatentes do Vietnã que sentem inveja de mim por ainda poder fazer isto", ele comentou.


Texto Anterior: Seus trabalhos são o que os outros cospem

Próximo Texto: Vida inesperada de um artista que era fotógrafo
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.