São Paulo, segunda-feira, 27 de junho de 2011

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DAVID LACHAPELLE

Vida inesperada de um artista que era fotógrafo

Por GUY TREBAY
Ele foi contratado por Andy Warhol. Ele demitiu Madonna. Fotografou Pamela Anderson e também Hillary Clinton.
"Era 2006, o dinheiro estava entrando a rodo, e eu pensava que morreria", contou, no mês passado, o fotógrafo David LaChapelle, 48. Ele estava de passagem por Manhattan, a caminho de Hong Kong, onde haveria uma mostra de seu trabalho. Não era apenas a pressão de sua carreira em alta ou a tendência a cometer excessos recreativos que o assustavam, contou. Era a convicção, que ele nutria havia anos, de que tinha Aids.
Ele não era soropositivo, como descobriu quando fez o exame ("Realmente, é pura sorte", comentou. "Naquela época, eu tinha 15 anos, vivia em Nova York e transava"). Tanto essa realidade quanto um desejo de trazer de volta à memória um período do início dos anos 1980 antes de a vida na cidade grande ter sido marcada pela tragédia o motivaram a voltar para a arte que fazia na época em que primeiro apareceu em Nova York, depois de abandonar o colégio de segundo grau em um subúrbio de Connecticut.
Em Nova York, em uma rara viagem para longe de sua fazenda em Maui, no Havaí, LaChapelle comandava uma mostra sua na galeria Michelman Fine Art, na Madison Avenue, e na Lever House, na Park Avenue.
Com seu brilho erótico e sua estética superaquecida, as fotos na galeria da Madison Avenue são reconhecíveis como obras de um homem que, em seus trabalhos para "Vanity Fair", "Interview", "Rolling Stone" e outras publicações, retratou Kanye West como um Jesus negro, Elizabeth Taylor parecendo uma cartomante de US$ 5, Eminem nu com a exceção de um acessório estrategicamente posicionado. Outras celebridades, como Angelina Jolie e Lady Gaga, desnudaram suas almas para ele, além de muito mais.
Na instalação da Lever House, contudo, o artista voltou às técnicas ingênuas que empregava no início de sua carreira. Correntes de papel penduradas das paredes e dos tetos, quando olhadas de perto, revelam imagens de corpos nus, uma alegoria da conexão humana, disse LaChapelle.
Seus detratores afirmam que LaChapelle não é tanto um artista quanto um fotógrafo comercial. Mesmo Richard Marshall, curador da mostra na Lever House, admitiu "ter tido os mesmos preconceitos" antes de ver as primeiras propostas para o projeto de LaChapelle. "Minha visão do trabalho era que ele se resumia a fotos comerciais de celebridades", disse Marshall.
Para alguns, contudo, foi precisamente com seus trabalhos feitos por encomenda que LaChapelle fez sua contribuição importante.
"David existe nesse território novo, no colapso entre a vanguarda e a cultura pop", disse Jeffrey Deitch, diretor do Museu de Arte Contemporânea em Los Angeles, "e trata-se de um espaço muito interessante."
Estranhamente, ao mesmo tempo em que LaChapelle tinha deixado sua carreira de lado, o mercado para suas imagens se valorizava tremendamente.
"Nada disso realmente importa para mim, nada que tenha a ver com o dinheiro", disse LaChapelle. Ele explicou que, nos anos de mais trabalho, ele se perdeu. "Eu não sabia dizer 'não'. Trabalhei 14 meses sem tirar um único dia de folga. Estava 15 quilos acima do peso e bebia muito. Eu tratava mal as pessoas que me cercavam e me tratava ainda pior."
Seu pique e sua intensidade sobre o set e fora dele contribuíram para sua fama de perfeccionismo quase maníaco.
Mas ele encontrou seu limite quando, no meio de um telefonema de Madonna, enquanto a cantora o repreendia por um vídeo, LaChapelle, de repente, desligou seu celular.
"Foi um momento de virada na minha vida. Foi a primeira vez em que eu disse 'não quero mais fazer isto'."
Foi libertador, ele explicou, "pensar que eu não precisaria mais trabalhar para popstars ou revistas, que não teria mais que filmar o último vídeo da Britney Spears."


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