São Paulo, segunda-feira, 27 de junho de 2011

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YASMINA REZA

Dramaturga famosa resiste à celebridade

Por ELAINE SCIOLINO
PARIS - Yasmina Reza é uma das dramaturgas mais bem-sucedidas do mundo, mas ela veste sua fama com desconforto. Ela é capaz de discorrer longamente sobre seu casaco Prada de couro vermelho. Pode relatar com humor cortante histórias sobre o ano que passou na estrada, seguindo Nicolas Sarkozy em sua campanha para a Presidência francesa, em 2007. Mas basta lhe perguntar algo sobre ela mesma, e a ansiedade da persona de escritora toma conta dela.
Misto de fragilidade e força de aço, Reza oscila entre extremos: uma determinação de ser julgada unicamente por seu trabalho e um desejo de ser compreendida e apreciada. A publicação de sua nova peça, "Comment Vous Racontez la Partie", a impeliu a enfrentar uma repórter, mais uma vez.
"Depois que escrevo, não tenho nada mais a dizer", ela explicou. "Os comentários que vêm depois são supérfluos. Eu escrevo. E isso é suficiente."
Mas então ela tem algo a dizer, sim, criticando jornalistas que buscam mergulhar profundamente demais em sua intimidade. Mas Reza está sob os holofotes outra vez, e não apenas em função da nova peça. Em outubro, será lançado o filme "Carnage", dirigido por seu amigo Roman Polanski e baseado em sua peça de 2009 premiada com o Tony "Le Dieu du Carnage".
E vêm sendo especulado que "G" -o homem, que se acredita ser seu amante, a quem ela dedicou "L'Aube le Soir ou la Nuit", seu best-seller sobre Sarkozy- possa ser Dominique Strauss-Kahn, o ex-chefe do Fundo Monetário Internacional que está sendo acusado de agredir sexualmente uma camareira de hotel em Nova York. Yasmina Reza não tem comentários a fazer sobre isso.
Quando ela fala, é um processo de revelar e ocultar. Ela responde em sentenças de uma palavra só. "Formidable." "Fantastique." "Superb." "Incroyable."
"A entrevista é um jogo", disse ela. "Procuro estruturar entrevistas de tal maneira que eu não diga nada. É melhor para mim ser misteriosa."
Com frequência, porém, os personagens de suas peças dizem demais. É o caso dos três personagens de uma de suas primeiras peças, "Art". Eles começam uma discussão tão ferrenha sobre a compra de uma tela branca sobre branco que passam a questionar como se tornaram amigos, para começar. Um tema comum nas peças de Reza é a tensão entre a tristeza da condição humana solitária.
Tão profundo é o conflito entre silêncio e loquacidade no caso da própria autora que Reza fez do conflito interno de uma escritora para controlar sua persona o tema de "Comment Vous Racontez la Partie", em que uma escritora chamada Nathalie dá uma entrevista pública sobre seu novo livro.
Reza, que tem 52 anos e é mãe de dois filhos, se esconde e se revela sob camadas de roupas belas. Magérrima e de estrutura óssea delicada, ela exala vulnerabilidade quando deixa seu suéter de cashmere deslizar dos ombros, revelando um vestido fino e justo de malha de tricô. Ela sempre calça sapatos de salto alto. E fez questão de usá-los enquanto acompanhou Sarkozy. "Caminhávamos por fazendas e corríamos para aeroportos", ela contou.
"Art", a peça que levou Reza ao reconhecimento internacional no fim dos anos 1990, já foi apresentada em mais de 30 línguas. Mas isso não basta. Reza está em negociação para realizar mais uma de suas ambições: ver uma de suas peças encenada no Comédie-Française, que fica em Paris. "Estou presente nos maiores teatros nacionais do mundo, mas ainda não nos grandes teatros nacionais da França, como o Comédie-Française."


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