São Paulo, segunda-feira, 27 de setembro de 2010

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Bancos evitam projetos ambientalmente arriscados


Credores cedem a protestos e anos de lutas jurídicas

TOM ZELLER Jr.

Explodir montanhas para obter carvão nos montes Apalaches (leste dos EUA) ou produzir milhões de toneladas de dióxido de carbono para extrair petróleo da areia em Alberta (Canadá) estão entre as maiores irritações industriais dos ambientalistas.
No entanto, após anos de complicações jurídicas surgidas de problemas ambientais e um crescente escrutínio dos bancos que financiam as indústrias mais sujas, vários credores comerciais estão assumindo uma posição sobre as práticas industriais que eles consideram arriscadas para suas reputações e seus balanços.
Nos últimos dois anos, Credit Suisse, Morgan Stanley, JPMorgan Chase, Bank of America, Citibank e Wells Fargo intensificaram a análise dos empréstimos para companhias envolvidas na remoção de topos de montanhas -explodindo-os e despejando os detritos nos vales e nos rios- ou encerraram os empréstimos.
Em alguns casos, a mudança de políticas representa uma tentativa de melhorar as credenciais verdes em áreas onde os bancos tinham pouco interesse, e não há indício de que as empresas envolvidas em práticas objetáveis não possam encontrar financiamento em outros lugares.
Mas o aumento de questões como o aquecimento global, juntamente com o crescente escrutínio de grupos ambientalistas aos investimentos dos bancos em muitas outras indústrias, como desenvolvimento de petróleo e gás, energia nuclear, geração de eletricidade a carvão, areias monazíticas, construção de oleodutos e barragens, reflorestamento e até certos tipos de agricultura, estão empurrando os credores para novos territórios.
"Uma coisa é se o seu mutuário potencial joga cianureto em um rio", disse Karina Litvack, diretora de governança e investimento sustentável na F&C Investments, uma firma de administração de investimentos em Londres. "Mas se ele estiver despejando dióxido de carbono no ar, que não é exatamente ilegal, o que fazer? Os bancos enfrentam uma espécie de dilema, porque estão competindo por negócios", disse, e poderiam perdê-los para outras instituições bancárias se "começarem a fazer o papel de polícia".
Litvack indicou grandes manifestações em agosto de ativistas climáticos diante do Banco Real da Escócia em Edimburgo.
E pelo menos uma dúzia de manifestantes foram parar na cadeia em demonstrações contra o financiamento pelo banco de desenvolvimento de areia monazítica no Canadá.
O HSBC, sediado em Londres, reduziu seus relacionamentos com alguns produtores de óleo de palma, que muitas vezes está ligado ao desmatamento nos países em desenvolvimento. O credor holandês Rabobank aplicou uma lista de condições de nove pontos para possíveis mutuários em petróleo e gás, que inclui compromissos de melhorar o desempenho ambiental e proteger a qualidade da água.
E a Wells Fargo notou em julho a "considerável atenção e polêmica" que rodeia a mineração nas montanhas Apalaches, no leste dos Estados Unidos. Ela disse que o envolvimento com empresas que se dedicam a essas práticas estava "limitado e em declínio".
Globalmente, os bancos e defensores do meio ambiente estão desenvolvendo melhores práticas e outros padrões voluntários. Várias instituições financeiras internacionais, incluindo HSBC, Munich Re e outras, formaram os Princípios do Clima, que se destinam a incentivar a administração da mudança climática "ao longo de toda a cadeia de produtos e serviços financeiros", segundo o site do grupo na web.
O Banco Real do Canadá, reagindo a pressões de defensores ambientais que denunciaram seu financiamento a projetos de areia monazítica, reuniu 18 bancos internacionais em Toronto para "um dia de aprendizado" sobre as "questões regulatórias, sociais e ambientais" que cercam as areias.
A Rainforest Action Network, um grupo ambientalista que chefiou uma campanha para salientar as instituições financeiras com ligações com a indústria mineira, disse em agosto que a mudança de políticas está prejudicando o financiamento.
O grupo notou que o Banco da América havia eliminado todas as conexões com a empresa de carvão Massey Energy, e o JPMorgan não tinha mais laços financeiros com essa empresa.
Carol Raulston, porta-voz da Associação Nacional de Mineração, um grupo setorial, disse que a maioria das políticas em questão posiciona os bancos para que reduzam gradativamente os empréstimos.
Mas Rebecca Tarbotton, diretora-executiva da Rainforest Action Network, disse que as medidas dos bancos parecem "sinal de que essas empresas têm um perfil de alto risco e que outros bancos devem tomar cuidado".
"Resumindo", ela acrescentou, "conforme se restringir o acesso ao capital, será mais difícil que as mineradoras consigam financiamento para explodir as montanhas americanas."


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