São Paulo, segunda-feira, 27 de setembro de 2010

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A garrafa de champanhe adotou agora o "verde"


Vinho carbonatado com pegada de carbono reduzida

Por LIZ ALDERMAN

REIMS, França - Muito abaixo da paisagem luxuriante de uvas amadurecendo na região de Champanhe, Thierry Gasco, o vinhateiro-mestre da casa Pommery, passa o dedo sobre a curva de uma garrafa verde-escura que parece exatamente igual às milhares de outras que repousam nestas frias adegas subterrâneas.
Mas para a mão e o olho tarimbados existe uma diferença sutil, embora potencialmente significativa.
"É assim que estamos refazendo o futuro da champanhe", disse, apontando um pouco abaixo do gargalo.
"Estamos reduzindo os 'ombros', para tornar a garrafa mais leve, para diminuir nossa pegada de carbono e ajudar a manter a champanhe aqui para as futuras gerações."
A indústria vinícola da Champanhe (nordeste da França) embarcou em um movimento para reduzir as 200 mil toneladas de dióxido de carbono que ela emite a cada ano, enviando bilhões de pequenas bolhas para o mundo inteiro. A produção e as remessas representam quase um terço das emissões de carbono da champanhe, sendo o maior agressor a garrafa de 900 gramas.
A atual remodelagem, que usa 65 gramas de vidro a menos, corresponde a um estudo de 2003 da pegada de carbono da champanhe, que a indústria quer cortar em 25% até 2020 e 75% até 2050.
A champanhe representa apenas 10% das 3 bilhões de garrafas vinho branco espumante produzidas no mundo por ano. Mas a garrafa se destaca por seu peso. O prosecco italiano, por exemplo, usa uma garrafa de 750 gramas. Mas ele e seus primos borbulhantes têm apenas a metade da pressão da champanhe -que gera o triplo da pressão de ar de um pneu de carro comum.
Embora algumas das garrafas reestilizadas de Pommery já estejam no mercado, o Comitê Interprofissional do Vinho de Champanhe, a organização setorial da região, espera que todas as vinícolas locais comecem a usar o recipiente de 835 g em abril próximo para engarrafar a safra de uvas deste mês; a nova linha de garrafas chegará às lojas após três anos de fermentação. A iniciativa, segundo o grupo, vai reduzir as emissões de carbono em 8 mil toneladas por ano, o equivalente a retirar das ruas 4 mil carros pequenos.
O recipiente ainda precisava suportar a grande pressão do vinho. Também precisaria sobreviver à corrida de obstáculos de quatro anos desde a fábrica até as adegas e a mesa de jantar e caber nas máquinas existentes. E tinha de ser moldado de modo a que os consumidores praticamente não notassem.
Gasco disse que a Vranken Pommery, uma das maiores casas de champanhe, gastou de 500 mil a 1 milhão de euros (de US$ 635 mil a cerca de US$ 1,3 bilhão) por ano desde 1994 em iniciativas ambientais, incluindo pesquisas e testes da garrafa mais leve.
Patrick LeBrun, um produtor independente, disse que começou a ser ecológico "por motivos pessoais". Ele não utiliza herbicidas há cinco anos, e, neste ano, está colocando toda a sua produção em garrafas mais leves. Tentar melhorar o meio ambiente "é minha contribuição para a próxima geração", disse.


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