São Paulo, segunda-feira, 27 de setembro de 2010

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Tabuletas antigas, enfim, retornam para o Iraque

Por ASHLEY PARKER

WASHINGTON - A história improvável de 362 tabuletas e placas com anotações em escrita cuneiforme começou na antiguidade iraquiana, em 2030 a.C. Mas as tabuletas passariam pelo Dubai moderno a caminho dos Estados Unidos, sobrevivendo a um confisco pelo governo e aos ataques terroristas de 11 de setembro, antes de finalmente retornarem a seu lugar de origem.
Em março de 2001, a alfândega americana recebeu a informação de que duas caixas contendo "objetos de argila" da Síria estavam sendo trazidas ao país ilegalmente, vindas de Dubai. Inspetores que vistoriaram um carregamento de navio em Newark, Nova Jersey, encontraram as tabuletas com escrita cuneiforme, cada uma delas menor que um baralho, e um especialista as examinou, atestando que tinham sido roubadas do sul do Iraque.
Naquele verão, as tabuletas foram colocadas no lugar onde, na época, eram guardados todos os objetos apreendidos pela alfândega: uma caixa-forte no subsolo da Casa da Alfândega dos Estados Unidos, no edifício 6 World Trade Center.
"Tínhamos guardado as tabuletas ali, e, então, quando aconteceu o 11 de setembro, o edifício foi destruído, juntamente com todo o resto", contou James McAndrew, agente especial sênior da agência de Imigração e Alfândega.
Assim que se considerou que era seguro voltar ao subsolo, menos de quatro semanas depois, agentes da alfândega retiraram duas caixas encharcadas de água contendo as tabuletas.
As relíquias foram avaliadas, posteriormente, em US$ 330 mil, mas McAndrews disse que é difícil lhes atribuir um valor monetário preciso. As tabuletas trazem registros de transações do cotidiano do Iraque antigo. Muitas são recibos de bens e serviços, mas há também títulos de propriedade, poemas, textos literários e augúrios diversos que se acreditava serem úteis para prever o futuro.
"Se você encontra uma coleção inteira dessas tabuletas, é literalmente como entrar no passado e encontrar um diário que mostra como era o cotidiano", disse McAndrew. "É um momento raro no tempo, quando você pode realmente ler a história de um povo foi que escrita em sua época."
Diferentemente dos artigos de argila de hoje, que geralmente são cozidos em um forno e então vitrificados para ajudar a preservar sua integridade, as tabuletas tinham sido secadas ao sol e continham depósitos salinos do solo iraquiano. Quando se molharam -o subsolo da Casa da Alfândega ficou inundado devido à ação dos bombeiros e ao rompimento de canos-, a umidade fez o sal vir à superfície, fraturando as tabuletas.
Foi quando chegou John Russell, professor de história da arte que trabalha com o Departamento de Estado como consultor sobre o legado cultural iraquiano. Ele sabia que os objetos seriam devolvidos ao Iraque e decidiu "que seria ótimo se pudéssemos devolvê-los em condição estável e conservada".
O Departamento de Estado financiou o projeto com aproximadamente US$ 100 mil. O trabalho de recompor e colar as tabuletas foi confiado à dupla de conservadores formada por Dennis e Jane Drake Piechota, que são marido e mulher.
Em 7 de setembro deste ano, as tabuletas finalmente foram devolvidas ao Iraque em cerimônia realizada no Museu Nacional do Iraque, em Bagdá.


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