São Paulo, segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

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LENTE

"Natal verde" sobrevive em NY

Chega o Natal, e, abruptamente, termina a invasão das calçadas nova-iorquinas, ocupadas durante um mês por mercadores sazonais que se aproveitam da atávica necessidade dos moradores urbanos de terem algo verde nos seus apartamentos durante a temporada do solstício. Eles estavam vendendo árvores.
Ter uma árvore de Natal viva num acanhado apartamento de Nova York parece algo tão conveniente quanto receber os contraparentes para uma semana de visita. Mas os vendedores de árvores -vindos de locais setentrionais exóticos, como Canadá e Vermont- oferecem um serviço valioso. E a presença de tantos homens másculos puxando serras e árvores pelas ruas é um presente a mais para as mulheres da cidade.
James Patrick, que anos atrás vendia árvores na esquina da rua 20 com a Segunda Avenida, contou que ele e seu sócio recebiam ofertas de beijos em troca de descontos nos produtos. "É como um jogo", disse Patrick ao "New York Times". "Eu sei o que quer dizer quando uma mulher pergunta: 'Dá para entregar essa árvore bem tarde?'."
Historiadores dizem que plantas verdes tinham um significado especial para povos antigos no Hemisfério Norte no final de dezembro, a época de menor luminosidade. Os egípcios levavam juncos para suas casas, e acredita-se que foram os alemães que passaram a colocar árvores decoradas dentro de seus lares, no século 16.
Mas eles nunca imaginaram uma árvore como a que enfeita o saguão do Emirates Palace Hotel, com 181 diamantes, pérolas, safiras, esmeraldas e outras pedras preciosas, que fazem com que o conjunto valha US$ 11 milhões (a árvore propriamente dita custou US$ 10 mil). Após toda a publicidade em torno disso, o hotel disse ter se arrependido de sobrecarregar essa tradição natalina.
Preocupações ambientais levam muita gente a preferir as árvores artificiais, e, neste ano, quase 13 milhões delas foram vendidas nos EUA, segundo o "Times". As árvores artificiais, neste ano, superaram as naturais nas salas de estar americanas pelo placar de 50 milhões a 30 milhões.
Mas está errada a ideia de que uma árvore "fake" é melhor para a natureza, segundo uma consultoria ambiental de Montreal, que concluiu que uma árvore artificial precisaria ser reutilizada durante mais de 20 anos para ser mais "ambientalmente correta" do que um pinheiro recém-cortado, adquirido anualmente, segundo reportagem do "Times".
"Você não está fazendo mal nenhum ao cortar uma árvore de Natal", disse Clint Springer, botânico e professor de biologia da Universidade Saint Joseph's, em Filadélfia. "Muita gente acha que a artificial é melhor porque você está preservando a vida de uma árvore. Mas nesse caso existe uma plantação sendo cultivada para esse fim."
E que também gera emprego aos vendedores de árvores e aos decoradores. Um deles, Scott Salvator, contou ao "Times" ter gastado dezenas de milhares de dólares na compra de elementos natalinos para um cliente europeu, e que seus projetos custam de US$ 5.000 a US$ 50 mil. Agora, seus dezembros são reservados para dois clientes muito especiais, e isso é tão cansativo que ele não aceita novas encomendas.
Quando o Natal chega, os vendedores de árvores, exaustos após um mês em vigílias de 24 horas, vão embora, e a única coisa que resta da sua visita são as folhas pontiagudas dos pinheiros, cobrindo as calçadas e os carpetes dos apartamentos de Manhattan. TOM BRADY


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