São Paulo, segunda-feira, 28 de março de 2011

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VIDA ÚTIL: FAÇA VOCÊ MESMO

Hackers trocam bytes por genes e germes

Por JED LIPINSKI

No GenSpace, um novo laboratório montado num antigo prédio de escritórios no centro de Brooklyn (Nova York), um grupo de "biólogos de garagem", ou "biohackers", está tentando fazer pela biologia moderna o que os hackers fizeram pela informática: transformar o "geek" em chique.
Com a ajuda de sites como o OpenWetWare.org, que dá a leigos acesso às mesmas informações disponíveis para doutorandos, os biohackers estão reinventando o Frankenstein da era moderna.
Suas ambições não são nada amadoras. Eles estão clonando cepas de E. coli para que se tornem bactérias transgênicas, resistentes à radiação, capazes de prevenir a malária; ou tentam curar o câncer usando água salgada e ondas de rádio.
Tais experiências são típicas do movimento chamado "biologia faça você mesmo", ou "DIYbio", que inclui pessoas de profissões díspares como artistas, executivos de banco, baristas e escritores, muitos dos quais não abrem um livro de ciências desde o colégio.
O DIYbio é parte de um movimento mais amplo de cientistas amadores realizando trabalhos de alto nível. É o caso de Mark Suppes, 32, webdesigner do Brooklyn, que, há poucos meses, se tornou o 38° físico amador a realizar uma fusão atômica.
Os biohackers montam centrífugas com batedeiras comuns, transformam webcams baratas em microscópios poderosos e criam fotobiorreatores com garrafas de refrigerante e bombas para aquários.
O GenSpace, inaugurado em 10 de dezembro, define-se como o primeiro laboratório biológico comunitário e não lucrativo nos EUA. Instalado em um antigo banco, parece um laboratório de garagem transportado para um ensolarado ateliê do Brooklyn.
As origens diversas dos seus sete integrantes, que racham o aluguel mensal de US$ 750, estimulam uma troca criativa.
Nurit Bar-Shai, uma artista de quase 40 anos, disse que sua falta de formação científica a libera para fazer "perguntas estúpidas", como "por que as placas de ágar precisam ser planas?".
Chetan Taralekar, 30, corretor de títulos do Barclays Capital e ex-programador de videogames, disse ter notado semelhanças entre escrever um código de computador e manipular o código genético.
"Mas, na genética, o meio é a realidade", afirmou. "Você está programando a vida."
A principal meta do GenSpace é promover a ciência como um hobby viável para crianças e adultos. "Quanto mais gente sujar as mãos em um laboratório, menos provável será que elas tenham reações por reflexo a coisas como pesquisas com células-tronco e organismos geneticamente modificados", disse Daniel Grushkin, 33, autor especializado em divulgação científica e porta-voz informal do grupo.
Biólogos amadores já tiveram problemas com a lei. Em 2004, Steve Kurtz, professor de artes em Buffalo (Nova York), encomendou bactérias de um geneticista de Pittsburgh para usar em uma exposição e acabou tendo sua casa cercada por agentes do FBI em trajes especiais de proteção. Kurtz foi preso e passou quatro anos até se livrar de uma acusação de fraude postal.
Por isso, os membros do GenSpace procuraram o FBI para redigir diretrizes de biossegurança. "Não consideramos o pessoal do GenSpace perigoso", disse Ed You, da Direção de Armas de Destruição em Massa do FBI.
Outros laboratórios DIYbio existem. O grupo de discussões DIYbio.org tem 1.557 membros, com grupos em Boston, Seattle, Austin (Texas), Los Angeles e San Francisco, além de Londres, Paris e Bangalore (Índia). E o GenSpace está recrutando mais membros para dividir o aluguel.
Ellen Jorgensen, 55, parte do grupo original, é professora-assistente de pesquisa clínica no New York Medical College e, recentemente, fez bactérias brilharem pelo acréscimo de uma proteína fluorescente verde. Taralekar aprendeu a separar o DNA em um gel. E Bar-Shai segurou uma pipeta pela primeira vez.
"A escola que eu frequentei no Queens nem tinha laboratório", disse Sung Won Lim, 22, que trabalha à noite numa mercearia 24 horas. "Eu gostaria de ver um dia estudantes saindo do GenSpace com os seus próprios organismos geneticamente modificados. Isso, para mim, seria muito legal."


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