São Paulo, segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Muita boa vontade, mas poucos benefícios políticos para Obama

Por PETER BAKER


Euforia diminui, e presidente enfrenta os mesmos velhos problemas


WASHINGTON - O presidente dos EUA, Barack Obama, que recebeu os líderes mundiais em seu país na semana passada, percorreu um longo caminho na direção de cumprir seu objetivo de restabelecer a posição internacional americana. Chefes de Estado estrangeiros ficaram ansiosos por encontrá-lo, e pesquisas mostram que as populações de muitos países se sentem muito melhor em relação aos EUA.
Mas, oito meses após sua posse, toda essa boa vontade até agora se traduziu em poucos benefícios políticos concretos para Obama. Embora os líderes estrangeiros prefiram tratar com ele do que com seu antecessor, George W. Bush, não se esforçaram muito para lhe dar o que ele queria.
Os aliados europeus ainda se recusam a enviar mais um número significativo de soldados para o Afeganistão. Os sauditas basicamente ignoraram o pedido de Obama de concessões a Israel, enquanto Israel recusa sua solicitação para conter a expansão dos assentamentos. A Coreia do Norte o desafiou testando uma arma nuclear. O Japão elegeu um partido menos amistoso com os EUA. Cuba pouco fez para se liberalizar em troca do modesto relaxamento de sanções. Índia e China resistem a acordos sobre a mudança climática.
Para um governo cujas autoridades costumam se gabar de ter "a melhor marca do mundo", existe o que Stephen Sestanovich chama de crescente "frustração com o que os outros países estão dispostos a contribuir para a promoção de interesses supostamente comuns".
As relações pessoais são importantes, disse Sestanovich, ex-embaixador de Bill Clinton (1993-2001) ligado à equipe atual, mas os interesses nacionais ainda predominam. "É isso que os presidentes americanos geralmente descobrem", ele disse.
James K. Glassman, que serviu como último subsecretário de Estado para Diplomacia e Assuntos Públicos sob Bush e hoje dirige o novo instituto de pesquisas do ex-presidente, disse que a popularidade foi só até aí. "Eu não diria que não é importante ser apreciado. É importante. Mas há outros fatores envolvidos", ponderou. "O que você precisa fazer é descobrir onde existem interesses mútuos."
Se Obama poderá usar sua estima internacional para promover esses interesses mútuos ainda é um grande desafio. Enquanto ele recebia os líderes mundiais na Assembleia Geral da ONU e depois, na cúpula do G20 em Pittsburgh na semana passada, a atenção se concentrava na reciprocidade da Rússia à decisão de Obama de substituir o escudo antimísseis planejado por Bush na Europa por uma versão menos ameaçadora para Moscou.
A Casa Branca negou que sua decisão fora uma maneira de melhorar as relações com o Kremlin, mas apreciou comentários de líderes russos que sugerem maior flexibilidade. Os assessores de Obama indicaram algumas áreas específicas em que obtiveram concessões de outros países. A Rússia, por exemplo, aceitou um esquema de cortes de armas nucleares e autorizou que tropas americanas voem por seu espaço aéreo a caminho do Afeganistão.
Além disso, segundo assessores de Obama, houve uma forte cooperação na luta contra a Al Qaeda, especialmente do Paquistão, o que levou a uma série de missões bem-sucedidas de captura ou morte contra o que eles chamam de alvos de alto valor, como o principal líder do Taleban no Paquistão e o filho de Osama bin Laden.
"O fato é que todos os países, inclusive o nosso, agem de acordo com seus interesses", disse Denis McDonough, vice-assessor de Segurança Nacional do presidente.
Mas Craig Kennedy, presidente do Fundo Marshall Alemão dos EUA, instituição de políticas públicas que oferece bolsas para acadêmicos, disse que há uma inevitável desconexão, porque os europeus pensavam que Obama fosse mais europeu em suas sensibilidades do que suas políticas de fato são.
"Eu desconfio de que, como decisões políticas reais têm de ser feitas, veremos a ‘euforia Obama’ diminuir quando os europeus passarem a vê-lo mais como um americano e menos como eles mesmos", escreveu Kennedy recentemente.
A dificuldade de Obama para conseguir apoio em certas áreas no exterior reflete as visões díspares sobre ele e suas políticas. "O problema é que ele está pedindo aproximadamente as mesmas coisas que Bush pedia, e Bush não as conseguiu não porque fosse um diplomata grosseiro ou um caubói", disse Peter D. Feaver, ex-assessor de Bush hoje na Universidade Duke, na Carolina do Norte. "Se esse fosse o caso, a vitória do sofisticado e urbano Obama teria solucionado o problema. Bush não as conseguiu porque esses países tinham bons motivos para recusá-las."
Ainda assim, Obama já demonstrou que pode atuar visando o longo prazo. Assessores e seguidores têm esperança de que, com o tempo, ele consiga juntar árabes e israelenses, forjar uma relação de trabalho com a Rússia, mesmo que não seja uma amizade, atingir o consenso com aliados sobre Irã e Coreia do Norte e construir uma coalizão para deter a expansão das armas nucleares.
"Os primeiros passos de Obama em política externa foram bons e adequados para este país, quer sejam aprovados por outros ou não", disse Robert Hutchings, ex-diplomata que hoje está na Universidade Princeton em Nova Jersey. Ele afirmou que a abordagem de Obama "depositou as bases para verdadeiros avanços".

Texto Anterior: Lente: Sonhos espaciais seguem vivos

Próximo Texto: No Japão, o barato passa a ser chique
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.