São Paulo, segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

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Xenofobia volta a ganhar terreno na África do Sul

Por CELIA W. DUGGER

POLOKWANE, África do Sul - Os homens da township (bairro exclusivo de negros na África do Sul) de Westenburg saíram à caça dos zimbabuanos. Percorrendo suas ruas de terra em caminhonetes enquanto anoitecia, brandiam porretes e atiravam pedras.
Ao amanhecer daquele dia, o corpo de Steven Hamilton, 24, tinha sido encontrado perto de um bar. Rapidamente se espalhou a notícia de que zimbabuanos bêbados o haviam esfaqueado no peito. Quando as pessoas voltaram do trabalho para casa, o bairro estava em erupção. Homens gritavam pedindo a morte dos zimbabuanos, ou que voltassem para sua terra.
Mike Mpofu, 34, ex-professor colegial de arte do Zimbábue que hoje vende legumes, viu a multidão chegando. Charneal Carelse, adolescente sul-africana cuja família se tornou amiga de Mpofu, estava passando por ali. "Eu disse a ela: 'A guerra está chegando'", contou Mpofu. Charneal disse para ele se esconder em sua casa, e ele foi.
Em maio de 2008, a imagem da África do Sul como lar de pessoas de todas as raças e nacionalidades sofreu duro golpe enquanto a violência xenófoba saltava de cidade em cidade, vitimando africanos pobres que buscavam asilo e oportunidade no país mais rico da região.
Em um ano e meio desde então, esses ataques surgiram periodicamente, mas os recentes contra os zimbabuanos em Polokwane e no extremo sul novamente deram destaque ao problema.
Recentemente, o presidente da África do Sul, Jacob Zuma, pediu à população para "abraçar nossos irmãos e irmãs africanos, que geralmente são mais maltratados que estrangeiros de outros continentes". Navi Pillay, alta comissária da ONU para Direitos Humanos, que é sul-africana, disse em dezembro que os ataques a estrangeiros em seu país são "alarmantes".
A polícia da Província de Limpopo reuniu os zimbabuanos naquela recente noite aterrorizante e os levou ao antigo estádio de Peter Mokaba, para que ficassem em segurança. Cerca de 30 continuam lá, pendurando a roupa lavada à sombra de um espetacular novo estádio construído para a Copa do Mundo de 2010, quando a África do Sul pretende se exibir ao mundo.
Outros milhares de zimbabuanos -muitos deles trabalhadores agrícolas migrantes e suas famílias- foram desalojados à força da comunidade de De Doorns, na Província do Cabo Ocidental, em um surto violento em novembro.
A África do Sul esperava que a trégua entre o presidente do Zimbábue, Robert Mugabe, e o antigo líder da oposição Morgan Tsvangirai, hoje premiê, estabilizasse o Zimbábue e reduzisse o êxodo em que milhões já fugiram da pobreza e da repressão na última década.
Mas centenas de zimbabuanos por dia continuam procurando asilo na África do Sul na cidade fronteiriça de Musina, a cerca de 200 km de Polokwane, e inúmeros outros entram no país ilegalmente, segundo oficiais da ONU.
"Não queremos mais zimbabuanos", disse Roy Buys enquanto lamentava com seus velhos amigos Ronie e Stephania Hamilton, pais do rapaz cujo assassinato provocou a violência. "Eles matam nossos irmãos, estupram nossas irmãs, invadem nossas casas."
Na última década, migrantes de Zimbábue se instalaram em Westenburg, aceitaram empregos desprezados e alugaram barracos, trabalhando muitas horas por baixos salários. Mas os ressentimentos fervilham sob a superfície da vida nas townships, especialmente entre jovens desocupados que veem os zimbabuanos trabalhando.
Após a morte de Hamilton -rapaz que, segundo seus pais, nunca teve emprego regular-, a raiva ferveu em violência. "Foi uma válvula de escape para as frustrações da comunidade", disse Larry Anderson, membro de associação local.


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