São Paulo, segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

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Empregados da alfândega dos EUA auxiliam cartéis

Por RANDAL C. ARCHIBOLD

SAN DIEGO - Autoridades dos EUA estão preocupadas que os traficantes mexicanos -que enfrentam um reforço na segurança fronteiriça, atualmente com quilômetros de novas cercas, refletores, teleguiados, sensores de movimento e câmeras- estejam intensificando seus esforços para corromper a polícia de fronteiras.
Os traficantes pesquisam alvos potenciais, segundo investigadores anticorrupção, explorando os clãs e relacionamentos interfronteiriços que são típicos na região, oferecendo dinheiro, sexo, o que for preciso.
Mas, com a polícia de fronteira dos EUA em meio a um boom de contratações, as autoridades acreditam que os traficantes estejam tentando de tudo, até solicitando que alguns de seus membros se candidatem a empregos na polícia.
"De certa maneira, é como o velho jogo de espião entre a antiga União Soviética e os EUA -tentar envolver os espiões dos outros", disse Keith Slotter, agente do FBI em San Diego (Califórnia).
James Tomschek, comissário-assistente de assuntos internos da Alfândega e Proteção de Fronteiras (CBP na sigla em inglês), e outros investigadores disseram ver muitos sinais de que as organizações criminosas estão fazendo um esforço conjunto para infiltrar suas fileiras. "Estamos muito preocupados", disse Tomschek.
"Houve casos verificáveis em que as pessoas foram dirigidas para a CBP para se candidatar a cargos somente com o objetivo de favorecer interesses dos criminosos. Elas foram escolhidas porque não tinham ficha policial; uma investigação de seu passado não revelaria informações desabonadoras."
No julgamento federal de uma agente recém-contratada pela Patrulha de Fronteiras, neste ano, um traficante de drogas com ligações com o crime organizado no México contou que havia atraído a agente, uma amiga da época do colégio que estava entrando na academia de polícia, para participar de seu bando, que contrabandeava toneladas de maconha para o Texas.
A agente Raquel Esquivel, 25, foi condenada recentemente a 15 anos de prisão por informar aos traficantes onde estavam posicionados os guardas de fronteira e sugerir como eles podiam evitar ser apanhados.
O traficante Diego Esquivel, que não é parente da agente, disse que havia dito a Raquel que sua decisão de entrar na academia foi uma boa medida profissional e, ele agregou, "também foi bom para mim".
No governo Bush, os EUA gastaram bilhões de dólares para reforçar a fronteira com o México, erguendo barreiras físicas e fazendo inúmeras contratações para desenvolver o maior órgão policial do país para patrulhar essa área.
Mas a batalha pela sobrevivência entre os cartéis do México, na qual milhares de pessoas foram mortas, a maioria no tráfico de drogas ou no combate a ele, apenas levou os traficantes a duplicar seus esforços para fazer suas drogas chegarem ao mercado americano.
Ao longo da fronteira, muitos residentes têm parentes dos dois lados. Gerações de moradores se acostumaram a passar de um lado para o outro em relativa liberdade, muitas vezes diariamente, e a trocar bens, legais ou não.
As autoridades federais acreditam que os narcotraficantes estejam tentando explorar esses laços mais que nunca, pedindo que parentes e amigos do lado americano aproveitem a onda de contratações de agentes alfandegários.
A maioria dos agentes e oficiais fica longe do crime. Mas o contrabando pode ser interessante. Um oficial médio ganha US$ 70 mil por ano, valor ínfimo diante do que os contrabandistas pagam para passar alguns caminhões cheios de drogas para os EUA.
No momento, apenas uma fração -cerca de 10%- dos recrutas da Alfândega e Proteção de Fronteiras é submetida ao teste de polígrafo, que, segundo os investigadores federais, se mostrou eficaz para eliminar pessoas ligadas às drogas e com passado problemático. As autoridades dizem não ter verba para testar mais recrutas.
Em anos passados, os recém-contratados raramente serviam nas áreas onde tinham crescido, mas recentemente essa prática foi relaxada para atrair mais recrutas, disse Thomas Frost, inspetor-geral-assistente do Departamento de Segurança Interna. Frost e outros veteranos dizem que isso facilitou para os traficantes.
Tomschek disse que vários candidatos a policiais foram rejeitados depois que investigadores suspeitaram que eles tinham sido enviados para a CBP por organizações criminosas, e que vários recém-contratados também estão sob investigação. Como disse um investigador na fronteira: "Há contratações demais. Se você tem um corpo quente e batimentos cardíacos, está empregado".


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