São Paulo, segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

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"Salva-vidas" chama atenção a casos de suicídio no Japão

Por MARTIN FACKLER

SAKAI, Japão - Os enormes penhascos de Tojimbo, com sua queda vertical para o verde e agitado mar do Japão, são um importante destino turístico, mas Yukio Shige não estava interessado no cenário agreste. Ele procurava outra coisa: uma figura humana solitária, geralmente sentada na borda do precipício.
Esse é um dos sinais típicos das pessoas que são atraídas para ali pela outra distinção menos gloriosa de Tojimbo como um dos lugares mais conhecidos para se matar no Japão -um dos países do mundo com maior tendência ao suicídio.
Shige, 65, ex-policial, ajudou a chamar a atenção para o triste fato de que o índice de suicídios no Japão está novamente aumentando. Dados da polícia mostram que o número de suicídios neste ano poderá ter se aproximado do recorde nacional, de 34.427, alcançado em 2003, quase 95 suicídios por dia.
Shige e um grupo de voluntários que ele reuniu salvaram 222 pessoas até agora, o que o transformou em figura nacional em um país que muitas vezes parece apático sobre seu elevado índice de autodestruição.
Mas ele também recebe críticas de uma sociedade conformista, que pode olhar desfavoravelmente para pessoas que chamam a atenção por se envolver em ativismo, mesmo do tipo mais humanitário.
"No Japão, dizemos que o prego que sobressai é martelado", diz Shige, que começou as patrulhas depois que ficou irritado com a inércia das autoridades locais. "Mas vou continuar me sobressaindo. Eu digo a eles: me martelem se puderem!"
Especialistas em saúde pública atribuem parte do alto índice de suicídios à imagem romântica desse ato no Japão como uma fuga honrosa, remontando ao ritual do hara-kiri dos samurais medievais. Mas a causa principal, segundo eles, é o declínio econômico do país.
Os suicídios cresceram pela primeira vez até os níveis atuais em 1998, quando as garantias de emprego vitalício começaram a desaparecer, e se mantiveram altos enquanto os salários e a segurança no emprego continuaram se desgastando.
A situação piorou durante a recente crise econômica, dizem especialistas. A depressão ainda é um assunto tabu no país, dificultando, para os que correm maior risco, buscar ajuda da família e dos amigos.
As autoridades de Sakai, a pequena cidade onde se situa Tojimbo, dizem que este é o ano mais terrível já registrado, em que mais de 140 pessoas foram para lá com a intenção de cometer suicídio, segundo a polícia -o dobro da média dos últimos anos.
A maioria delas foi impedida por policiais ou turistas próximos, ou decidiu não saltar por outros motivos. Os dados da polícia não incluem as 54 pessoas que, segundo Shige, ele e seu grupo detiveram neste ano. As autoridades locais creditam à ajuda de Shige o pequeno número de suicídios ali em 2009 -apenas 13-, praticamente o mesmo que os 15 do ano passado.
Shige diz que sua abordagem para impedir os suicídios é simples: quando vê um provável suicida, aproxima-se e gentilmente começa a conversar. A pessoa, geralmente um homem, logo começa a chorar.
"Eles estão apenas sentados ali sozinhos, esperando que alguém converse com eles", disse Shige.


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