São Paulo, segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

China dispara na construção de reatores

Por KEITH BRADSHER

SHENZHEN, China - A China se prepara para construir na próxima década três vezes mais usinas de energia nuclear que o resto do mundo combinado, num ritmo que poderá ajudar a desacelerar o aquecimento global.
A indústria de energia nuclear civil da China -que tem 11 reatores em operação e está iniciando a construção de cerca de dez por ano- não teve um acidente sério em 15 anos de produção de eletricidade em larga escala.
Como a China já é o maior emissor de gases acusados de causar o aquecimento global, a expansão da energia nuclear deverá desacelerar as emissões.
Mas, dentro e fora do país, a velocidade do programa de construção desperta preocupações sobre a segurança. A China pediu ajuda internacional para treinar uma equipe de inspetores nucleares.
O último país a realizar essa rápida expansão nuclear foram os EUA, na década de 1970, em um surto de construção de reatores que terminou com o acidente de Three Mile Island, em 1979. E a China está situando a maior parte de suas usinas nucleares perto de grandes cidades, potencialmente expondo dezenas de milhões de pessoas à radiação no caso de um acidente.
Além disso, a China deve manter salvaguardas nucleares em uma cultura empresarial nacional em que qualidade e segurança às vezes cedem lugar à redução de custos, aos lucros e à simples corrupção -como mostram os escândalos nas indústrias de alimentação, farmacêutica e de brinquedos e a precária construção de escolas que desmoronaram no terremoto na Província de Sichuan, no ano passado.
"Na etapa atual, se não estivermos conscientes da expansão super-rápida do setor, ela vai ameaçar a qualidade da construção e a segurança operacional das usinas nucleares", disse Li Ganjie, diretor da Administração Nacional de Segurança Nuclear da China, em discurso neste ano.
Um escândalo de corrupção em alto nível já está se desenrolando na indústria nuclear. Em agosto, o governo chinês demitiu e deteve o poderoso presidente da Corporação Nuclear Nacional da China, Kang Rixin, em um caso de corrupção de US$ 260 milhões envolvendo alegações de fraudes em licitações na construção de usinas nucleares, segundo a mídia. Nenhuma envolveu Kang.
Embora as decisões publicamente divulgadas de Kang não pudessem ter criado situações de risco nas usinas nucleares, o caso é um sinal preocupante de que os executivos da indústria nuclear da China poderiam não colocar a segurança em primeiro lugar ao tomar decisões.
O desafio ao governo e às empresas nucleares, enquanto intensificam a construção, é manter sob vigilância um crescente exército de empreiteiras e subcontratadas. Philippe Jamet, diretor da divisão de segurança em instalações nucleares da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) em Viena, disse que a China recebeu inspetores estrangeiros em seus reatores e que "eles demonstram muito boas condições de segurança operacional".
Mas ele acrescentou que a AIEA está preocupada se a China teria inspetores nucleares suficientes com treinamento adequado para acompanhar a rápida expansão. Hoje, as usinas nucleares da China podem produzir cerca de 9 gigawatts de energia operando em plena capacidade, fornecendo cerca de 2,7% da eletricidade do país. Há três anos, o governo definiu a meta de quadruplicar essa capacidade até 2020.
O governo em breve anunciará novo aumento de metas, para 70 gigawatts de capacidade até 2020 e 400 gigawatts até 2050, disseram as autoridades.
A demanda por eletricidade cresce tão rapidamente na China que, mesmo que a indústria alcance a ambiciosa meta de 2020, as estações nucleares ainda vão gerar apenas 9,7% da energia do país, segundo projeções oficiais.
Colocar tanta energia nuclear na rede na próxima década reduziria as emissões de gases-estufa relacionados à energia em cerca de 5%, comparadas com as emissões que seriam produzidas pela queima de carvão. "É animador, mas é só uma peça do quebra-cabeça", disse Jonathan Sinton, especialista em China da AIEA.


Texto Anterior: Sinta o perfume e conheça seu criador
Próximo Texto: Ensaio - Sylvia Ann Hewlett: As vantagens do horário de trabalho flexível
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.