São Paulo, segunda-feira, 29 de novembro de 2010

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NEGÓCIOS VERDES

O carvão impera economicamente

Por ELISABETH ROSENTHAL

OROSZLANY, Hungria - Quando os diretores da última usina de energia movida a carvão que resta na Hungria anunciaram que fechariam sua mina e começariam a desmontar a central de energia no final deste ano, a notícia causou choques nesta cidade industrial, cuja praça tem uma estátua de três mineiros.
Era sabido que a usina de Vertesi e sua mina, de propriedade do governo, eram mantidas em operação apenas com mais de US$ 30 milhões em subsídios estatais anuais. Mais de 3.000 dos 20 mil moradores de Oroszlany trabalham em indústrias relacionadas ao carvão. A usina é uma das grandes contribuintes fiscais da cidade. E as 5.000 residências da área, suas lojas e fábricas recebem calor da usina.
"Sabemos que o carvão é uma técnica antiga que não é sustentável, mas não encontramos alternativa", disse Gabor Rajnai, o prefeito de Oroszlany. "Agora, todo mundo está pensando em como vamos nos aquecer no inverno."
A usina de Vertesi deverá ser mantida em operação limitada por três anos após o fechamento da mina, em parte para ganhar tempo para a cidade encontrar alternativa de aquecimento.
Determinada a reduzir a dependência da Europa do carvão, a Comissão Europeia está em uma batalha complexa contra os subsídios que, há muito tempo, sustentam o carvão, uma indústria influente, mas prejudicada pela poluição. Em maio, o órgão executivo da UE em Bruxelas anunciou que as ajudas e os favores econômicos para minas e usinas de energia a carvão serão proibidos depois deste ano, precipitando o fechamento de Vertesi.
Enquanto os países se esforçam para reduzir suas emissões de combustíveis fósseis, muitos tentam se livrar do carvão, o combustível de maior emissão. Mas o carvão também é o sangue vital de muitas comunidades, da Hungria à Alemanha.
Embora a União Europeia geralmente proíba subsídios nacionais, o carvão é uma antiga exceção. Mas essa posição mudou, conforme cresceram as preocupações com o aquecimento global, e surgiram melhores fontes de energia renovável.
Em 2007, a UE se comprometeu a reduzir as emissões de gases do efeito estufa em 20% abaixo dos níveis de 1990 até 2020, produzindo 20% da eletricidade de fontes renováveis.
"Se queremos reduzir as emissões de carbono, por que a indústria de carvão recebe tratamento preferencial?", perguntou Connie Hedegaard, a ministra de Mudança Climática da UE.
O carvão é citado como um combustível barato, mas essa designação nem sempre é precisa, dizem analistas de energia. Em alguns lugares, recursos mais baratos já estão disponíveis, e o rótulo não leva em conta a poluição causada pela queima de carvão.
O sistema de trocas de emissões da UE força efetivamente as empresas energéticas a pagar por algumas das emissões excedentes do carvão. O objetivo da UE não é eliminar completamente o carvão, mas substituí-lo, onde não for econômico, por formas de energia mais limpas. Mas não é fácil extinguir os subsídios ao carvão.
A Alemanha e a Espanha rejeitaram vigorosamente o prazo proposto de 31 de dezembro, argumentando que a recessão tornou impraticável revogar os subsídios este ano. O carvão representa 30% da produção de eletricidade e 17% do consumo de energia na UE.
A Europa aprovou sua primeira lei de extinção gradual dos subsídios operacionais à indústria de carvão em 2002 -e o prazo foi adiado diversas vezes. Alguns países, como França e Itália, extinguiram os subsídios. Alguns subsídios, como os que se destinam a retreinar ex-mineiros ou limpar locais de minas, não foram proibidos.
Cedendo à pressão, os ministros desesperados da UE disseram em julho que concederiam uma extensão muito limitada de certos subsídios até 2014, mas com uma série de novas condições. Por exemplo, os subsídios agora podem ser dados "somente no contexto de um plano de encerramento" que feche totalmente as usinas até janeiro de 2014, e elas têm de ser reduzidas em 33% a cada 15 meses. E o dinheiro não pode ser usado para obter acesso a novas reservas de carvão. A proposta será votada este ano.
"Em muitos lugares, o carvão europeu não é competitivo, mas muita gente trabalha no setor", disse Marlene Holzner, porta-voz do Ministério da Energia da UE. "A ideia era ajudar essas regiões a eliminar progressivamente o carvão para que não tivesse um efeito tão duro sobre o emprego."
Antes da recessão global, Oroszlany construiu um novo parque industrial para atrair pequenas indústrias -a General Electric tem uma fábrica lá- que fornecerão empregos quando o carvão estiver extinto. Mas essa iniciativa ainda é jovem.
"Sabíamos que a mina não funcionaria para sempre, mas isto é depressa demais", disse o prefeito Rajnai.
Nos anos 90, havia 6.500 pessoas trabalhando na usina energética; hoje são 1.500. Em 2009, 800 pessoas perderam o emprego, e 300 continuam desempregadas. Vertesi fornece cerca de 5% da eletricidade da Hungria.
Os mineiros, cujas famílias nunca conheceram outra profissão, enfrentam um futuro incerto. "Depois de 20 anos trabalhando na mina, seu corpo está danificado e, por isso, você não é empregável", disse Csaba Fekete, 39, preparando-se para seu turno.
Judit Bertalan, uma deputada local que é contra o fechamento da mina, disse: "Apesar de estarmos na UE, a população da Hungria a considera uma questão local".


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