São Paulo, segunda-feira, 29 de novembro de 2010

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Poluição estraga região de oásis no golfo Pérsico

Por LIZ ALDERMAN

DUBAI - Dubai é um exemplo de advertência sobre a construção de metrópoles no deserto. No ano passado, turistas nadaram em esgoto a céu aberto em seu litoral no golfo Pérsico. A purificação da água do mar para beber está aumentando o nível de salinidade. E, apesar de repousar sobre reservas de petróleo, a região está ficando sem fontes de energia para sustentar seu rico estilo de vida.
"O crescimento foi intenso e enorme, mas as pessoas esqueceram do meio ambiente", disse Jean-François Seznec, um especialista em Oriente Médio na Universidade Georgetown em Washington.
O tratamento básico de dejetos e o fornecimento de água doce, além dos grandes projetos industriais, exigem tanta eletricidade que a região está se voltando para um futuro nuclear, levantando questões sobre os riscos de confiar parcialmente em uma tecnologia vulnerável a acidentes e ataques terroristas.
O maior desafio de Dubai é a água, que não pode ser bebida sem usinas de dessalinização. As usinas produzem emissões de dióxido de carbono que ajudaram a dar a Dubai e outros dos Emirados Árabes Unidos uma das maiores pegadas de carbono do mundo. Elas também geram quantidades enormes de chorume quente, que é bombeado de volta para o mar.
Os Emirados dessalinizam o equivalente a 4 bilhões de garrafas de água por dia. Mas, a qualquer momento, a região tem, em média, um suprimento de água doce estimado para quatro dias.
Os níveis de salinidade do golfo aumentaram o suficiente para ameaçar a fauna e a flora marinhas, disse Christophe Tourenq, um pesquisador do World Wide Fund for Nature em Dubai.
E as operações de tratamento de esgotos lutam para acompanhar o rápido desenvolvimento.
Até agosto passado, a única usina de tratamento de esgotos de Dubai lidava com 480 mil metros cúbicos de dejetos por dia, quase o dobro da capacidade de 260 mil metros cúbicos que poderia tratar, disse o diretor da usina, Mohamed Abdulaziz Najem.
Alguns motoristas dos 4.000 caminhões-tanques que carregavam dejetos diariamente de Dubai para tratamento na usina simplesmente despejavam sua carga em canais que corriam para o elegante subúrbio de Jumeirah, ele disse.
Os padrões ambientais raramente foram aplicados, enquanto centenas de arranha-céus eram construídos.
Os esforços de desenvolvimento "ampliaram" os desafios da proteção ambiental, disse o secretário-geral da agência ambiental de Abu Dhabi, Majid Al Mansouri. "Nós alcançamos muita coisa, mas reconhecemos que resta muito mais trabalho a fazer."
A sustentabilidade não é uma grande questão em Abu Dhabi, que tenta aprender com os erros de Dubai.
Abu Dhabi montou um sistema de monitoramento dos lençóis freáticos e está reciclando ao irrigar gramados e florestas do deserto com dejetos residuais. Ele começou uma campanha de conscientização pública. O governo concedeu contratos para a primeira instalação de armazenamento de água dos Emirados. Também começou a exigir que os novos edifícios sejam projetados com padrões ambientais ocidentais.
Dubai inaugurou uma grande instalação de tratamento neste verão, duplicando sua capacidade. Enquanto isso, grandes projetos industriais, como fundição de alumínio e siderúrgicas, que exigem grandes quantidades de eletricidade, estão sobrecarregando a rede existente. Eles são alimentados com gás natural de Qatar, que limita o suprimento. Alternativas como energia solar e eólica são raras.
Por isso, os Emirados assinaram um acordo com Washington que lhes permite construir usinas nucleares que não enriquecem ou reprocessam urânio. Além de Dubai, Abu Dhabi, Arábia Saudita, Kuwait, Qatar, Bahrein e Egito estão estudando a energia nuclear.
Mas de uma perspectiva da sustentabilidade a energia nuclear faz pouco sentido, disse Mohamed Raouf, diretor ambiental do Centro de Pesquisa do Golfo, em Dubai. "Não é renovável, existe um problema com os dejetos, e os suprimentos de urânio deverão se esgotar em 40 ou 50 anos", disse.
"O que os Emirados nos mostraram", ele disse, "é que se você não lidar com a sustentabilidade do meio ambiente obterá um lucro rápido, mas enfrentará problemas."


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