São Paulo, segunda-feira, 29 de novembro de 2010

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Livros infantis perdem espaço nas prateleiras

Por JULIE BOSMAN

Os livros infantis fartamente ilustrados são tão pouco procurados hoje em dia na livraria Children's Book Shop, em Brookline, Massachusetts, que os funcionários da loja se acostumaram a colocar exemplares novos nas estantes, vê-los ficar parados ali e devolvê-los às editoras.
O fenômeno não se limita a essa loja. O livro ilustrado -presença constante na literatura infantil, com ilustrações chamativas, cores alegres, letras de tamanho grande e capa atraente- vem perdendo espaço. Esse tipo de livro não vai desaparecer -os nomes eternos, como as obras de Sendak e Seuss, ainda vendem bem-, mas as editoras vêm reduzindo o número de lançamentos, e livreiros nos EUA dizem que as vendas de livros infantis ilustrados estão em baixa.
A crise econômica é um fator importante a explicar a tendência. Além disso, porém, os pais começaram a pressionar seus filhos em idade pré-escolar e na primeira série escolar a abrir mão dos livros ilustrados em favor de livros com mais texto e histórias divididas em pequenos capítulos. As editoras falam das pressões de pais preocupados com as avaliações escolares padronizadas e cada vez mais rigorosas.
"Os pais andam dizendo 'meu filho não precisa mais de livros com ilustrações'", disse Justin Chanda, editor da Simon & Schuster Books for Young Readers. "Há uma pressão real vinda de pais e escolas para que as crianças comecem mais cedo a ler livros para um público mais velho."
Mas editores e especialistas em alfabetização elogiam os livros ilustrados, dizendo que podem ajudar a desenvolver o pensamento crítico da criança.
"Até certo ponto, os livros ilustrados forçam a criança a ter um pensamento analógico", disse Karen Lotz, editora da Candlewick Press, em Somerville, Massachusetts. "De ilustração em ilustração, à medida que o leitor interage com o livro, sua imaginação vai preenchendo as lacunas."
Muitos pais deixam de levar em conta o fato de que livros com mais texto, parágrafos completos e menos imagens não são necessariamente mais complexos que os livros ilustrados. "O vocabulário de um livro ilustrado pode ser muito mais difícil que o de um livro com mais texto", disse Kris Vreeland, compradora da livraria Vroman's, de Pasadena, Califórnia.
Alguns pais dizem que dão livros com mais texto a seus filhos para fomentar as habilidades das crianças. Amanda Gignac, de San Antonio, Texas, é mãe que cuida dos filhos em casa e escreve o blog sobre livros The Zen Leaf. Ela contou que seu filho, Laurence, começou a ler livros com muito texto quando tinha quatro anos.
Laurence está com seis anos hoje e regularmente encara livros de texto de 80 páginas, mas ainda é um "leitor relutante", disse Gignac. Às vezes, ela contou, Laurence tenta voltar para os livros ilustrados. "Ele ainda leria livros ilustrados hoje, se o deixássemos, porque não quer ter trabalho para ler", explicou.
Jen Haller, vice-presidente e editora associada do Grupo Penguin de Leitores Jovens, disse que, embora algumas crianças estejam começando a ler livros de texto mais cedo, ainda leem livros ilustrados ocasionalmente.
"Os livros infantis ilustrados possuem um forte elemento confortador", disse Haller. "Não é o caso de essa porta se fechar, e de eles nunca mais poderem ler livros ilustrados."


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