São Paulo, segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

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O governo Obama

A promessa de Obama: US$ 10 bilhões à pré-escola

Ozier Muhammad/The New York Times
Obama, seu vice, Joe Biden (à esq.) e o futuro secretário de Educação, Arne Duncan (à dir.), numa escola de Chicago; o presidente eleito prometeu, em campanha, investimentos na educação das crianças pequenas

Por SAM DILLON

CHICAGO - Na manhã seguinte à eleição presidencial, Matthew Melmed, diretor-executivo da entidade Zero to Three, voltada para a educação na primeira infância, mal continha sua euforia.
A primeira coisa que fez foi mandar um e-mail para conselheiros e funcionários, lembrando-os do interesse do presidente eleito Barack Obama pela educação e pelo atendimento a crianças pequenas, e congratulando Obama por ter defendido na campanha "uma plataforma abrangente para a primeira infância".
Melmed não estava sozinho em seu entusiasmo. Após anos de um comportamento, segundo ele, questionável do governo Bush na educação, muitos ativistas aguardam ansiosamente que Obama abrace a educação para a primeira infância.
Nos debates presidenciais, ele citou duas vezes essa como sendo uma prioridade, e seu escolhido para a pasta da Educação, Arne Duncan, superintendente das escolas de Chicago, é um ardoroso defensor do tema.
Além disso, os US$ 10 bilhões que Obama prometeu para a educação na primeira infância equivaleriam à maior iniciativa a ser lançada pelo governo federal para essa faixa etária desde o início do programa Head Start, em 1965. Atualmente, o Head Start atende cerca de 900 mil crianças em idade pré-escolar, com uma verba de US$ 7 bilhões de dólares. "As pessoas estão absolutamente extasiadas", disse Cornelia Grumman, diretora-executiva da entidade First Five Years Fund.
Apesar da recessão, Obama enfatiza seu interesse em realizar investimentos estratégicos na educação para a primeira infância. Questionada sobre a possibilidade de que o plano sofra cortes devido à crise econômica, Jen Psaki, porta-voz da transição, declarou: "Simplesmente não estamos em condições de relegar prioridades tão essenciais quanto a educação".
À frente do movimento estão um economista ganhador do prêmio Nobel, James Heckman, e outras pessoas que demonstram que cada dólar destinado à primeira infância pode eliminar a necessidade de gastos públicos muito maiores em termos de educação correcional, gravidez de adolescentes e prisões.
Agora que novas iniciativas parecem prováveis, os especialistas debatem como melhorar o sistema de atendimento pré-escolar dos EUA, que eles consideram fragmentado, carente de verbas e confuso. Alguns hesitam até em usar a palavra "sistema".
"É uma colcha de retalhos, uma salada, um não-sistema", disse Libby Doggett, diretora-executiva da entidade Pre-K Now, que defende o acesso universal a creches públicas.
Há vários programas federais e estaduais, públicos e privados, beneficentes ou visando lucro. Eles acontecem em escolas públicas, igrejas, creches e até em casas particulares.
A proposta de Obama, que Duncan ajudou a redigir, enfatiza a ampliação do atendimento à primeira infância e prioriza o atendimento aos mais pobres. Também destina mais verbas federais para Estados que criem programas destinados a crianças pequenas de todas as faixas de renda.
Durante o governo Bush, as verbas federais para programas educacionais voltados à primeira infância caíram. Ao mesmo tempo, muitos Estados fizeram substanciais investimentos em classes especiais para crianças deficientes de 4 anos, segundo a Pre-K Now.
Obama prometeu criar um Conselho Presidencial para o Aprendizado Precoce, destinado a coordenar políticas federais, estaduais e municipais, a quadruplicar a verba para o programa Early Head Start e a ampliar os programas de visitas domiciliares para mães de baixa renda. O projeto enfatiza melhoras qualitativas, não só o atendimento a mais crianças.
Um programa que incorpora muitas dessas características é o Educare, consórcio nacional de creches financiadas por impostos e por várias fundações familiares. O primeiro Centro Educare, construído em 2000 na periferia sul de Chicago, oferece educação e cuidados durante todo o dia a cerca de 150 crianças com idades entre 6 semanas e 5 anos.
Marquia Fields, funcionária de uma loja, deixa seus filhos Winter e Summer na creche Educare de Chicago, todos os dias, de 8h a 16h30.
Winter, 2, está numa classe com sete colegas e três professoras. Depois do café da manhã, as crianças se sentam em um tapete para ouvirem histórias e depois brincam se familiarizando com as letras. No meio da manhã, Winter faz estripulias no ginásio e depois do almoço tira um cochilo antes da aula de artesanato.
"Isso é aprender brincando", disse Fields. "Eles aprendem a ter rotina, a ter limites, a compartilhar e a expressar emoções em vez de agredir."


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