São Paulo, segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

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Casa Branca concentrará as principais decisões


Presidente eleito terá que equilibrar polos rivais de poder

Por PETER BAKER

WASHINGTON - O presidente eleito dos Estados Unidos, Barack Obama, concluiu a formação de um gabinete cheio de agentes proeminentes e determinados, mas está montando uma estrutura de governo que irá concentrar na Casa Branca mais decisões sobre questões domésticas prioritárias.
Com novos assessores na Casa Branca para coordenar iniciativas de saúde, urbanismo e energia, Obama sinaliza que pretende manter perto de si o poder efetivo sobre esses temas. Assim, o centro de gravidade política se afasta do gabinete, uma tendência que se acelerou sob presidentes de ambos partidos nos últimos anos.
Ao mesmo tempo, a reorganização de Obama sugere uma disposição para tolerar e até estimular a existência de centros rivais de poder dentro do seu governo. Ele não só está criando novos cargos com autoridade sobre áreas-chave, como começou a encher a Ala Oeste da Casa Branca (onde fica o Salão Oval) de pessoas com estatura igual ou maior do que os membros do gabinete -o que inclui dois ex-altos-funcionários governamentais e um ex-líder da maioria no Senado.
David Axelrod, assessor especial de Obama, disse que questões como saúde e energia "são tão fundamentais para a nossa capacidade de endireitar a economia em longo prazo que ele sabe que vai ter de conduzir grande parte disso e quer funcionários altamente gabaritados na Casa Branca para ajudá-lo nisso".
O rearranjo indica outras prioridades que não as do presidente George W. Bush, que passou grande parte dos seus mandatos montando um novo aparato de segurança nacional, numa época de guerras e ameaças terroristas. A equipe de transição de Obama cogita até mesmo desfazer parte do que Bush construiu em termos de estruturas de segurança na Casa Branca.
Sob anonimato, fontes da transição disseram que Obama manterá a segurança nacional como prioridade central, independentemente da forma que ele dê à Casa Branca. Mas tais fontes afirmaram que o futuro presidente não terá condições, diante da crise econômica e do desafio climático, de manter a mesma organização que seu antecessor.
"Após oito anos de uma Casa Branca que teve apenas um interesse esporádico na frente doméstica, Obama deixa claro que atacará os problemas domésticos com todo o gás", disse Bruce Reed, presidente do Conselho da Liderança Democrática.
O presidente eleito completou suas nomeações ministeriais no último dia 19, confirmando a indicação da deputada Hilda Solis (Califórnia) como secretária do Trabalho, do deputado Ray LaHood (Illinois) como secretário de Transportes e do ex-prefeito de Dallas Ron Kirk como representante comercial dos EUA.
Obama está criando novos cargos para coordenar suas propostas para a ampliação da saúde pública, promoção de energias limpas e estímulo a novas políticas urbanas. Suas escolhas para esses cargos também sugerem quanta influência esses assessores terão. Tom Daschle, ex-líder da maioria democrata no Senado, será o "czar" da saúde pública; Carol Browner, ex-diretora da Agência de Proteção Ambiental (APA), será a "czarina" da energia.
E definitivamente ele deu mais destaque ao Conselho Econômico Nacional, ao colocar na sua chefia o ex-secretário do Tesouro Lawrence Summers.
O que ainda não se sabe é como esses proeminentes funcionários da Casa Branca irão compartilhar as responsabilidades com secretarias e agências afins. Summers já foi secretário do Tesouro, mas o cargo agora será de Timothy Geithner, que foi seu subordinado no governo Clinton. Analogamente, Browner já dirigiu a APA, e agora sua ex-subordinada Lisa Jackson é quem comandará a agência.
Daschle insistiu em assumir o cargo na Casa Branca além de ser nomeado como secretário de Saúde e Serviços Humanos. Terá um escritório na Ala Oeste e sempre que possível participará das reuniões matinais de Obama com seus assessores diretos, segundo democratas próximos à situação.
Robert Rubin, que foi secretário do Tesouro de Clinton, habituou-se a ir todos os dias de manhã à Casa Branca para essas reuniões, o que lhe dava mais acesso à tomada de decisões. Um democrata familiarizado com a transição disse que Geithner poderá imitar essa prática.
"Muito disso é simbólico", disse Karen Hult, professora de ciência política da Universidade Virginia Tech. "Você quer ficar perto do presidente porque isso sinaliza aos outros que é uma prioridade política e que o presidente realmente dá ouvidos a essa pessoa. Agora, é claro que, quanto mais gente estiver assim, menos provável é que realmente o presidente lhes dê ouvidos."


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