São Paulo, segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

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Sem o dedo mindinho, a mão está quase perdida

Por DANA SCARTON

O mindinho, o humilde dedo mínimo, sempre foi considerado um acessório decorativo, uma extensão elegante da taça de vinho. Então o que perde quem não o tem?
"Perde 50% da força da mão, facilmente", disse Laurie Rogers, terapeuta ocupacional com certificação em terapia da mão, do Hospital Nacional da Reabilitação, em Washington. Ela explicou que, enquanto a função dos dedos indicador e médio, junto com o polegar, é de pinçar e agarrar, o mindinho se une ao anular para dar força.
Eu soube disso em abril deste ano, quando caí e quebrei um osso -da espessura de um lápis- na base do dedo mínimo direito. A fratura aconteceu na articulação metacarpofalangeana (MCF), onde o dedo se une à mão. Cinco meses depois, o dedo não dobrava sozinho. Eu não podia cerrar o punho, manipular uma raquete de tênis nem segurar halteres com firmeza.
Minha situação estava longe de ser rara. Fraturas do dedinho e do seu metacarpo -osso que se estende da base do dedo até dentro da mão- ocorrem com quase o dobro da freqüência de fraturas em outros conjuntos do dedo.
"As pessoas acham que se não dói e dá para mexer o dedo é porque não está quebrado", disse Scott Edwards, chefe de cirurgia de mão e cotovelo do Hospital da Universidade Georgetown, em Washington. "Isso simplesmente não é verdade."
Consertar um dedinho quebrado pode envolver pinos, placas e parafusos. Oito dias depois da minha queda, dois pinos foram inseridos pela articulação MCF. Esse procedimento ambulatorial religou minha falange proximal e fortaleceu o nó médio do dedo. Um gesso foi aplicado da ponta dos dedos ao cotovelo.
Doze dias depois, o gesso foi retirado, e a reabilitação começou. Fui rápido para a fisioterapia, mas caí numa terapeuta que era tímida demais para manipular o meu dedo. Quando encontrei outra, meu dedo estava rígido, e o surgimento de fibroses (tecido cicatricial) parecia bem avançado.
A fibrose é bem mais proeminente e problemática nos dedos porque praticamente não há músculo, e os tendões ficam diretamente sobre o osso. Acumular fibrose no dedo mínimo equivale a "pôr cola dentro de um relógio", segundo Benson.
Uma ressonância magnética do dedo, feita depois que os pinos haviam sido retirados, confirmou que a fibrose havia imobilizado os tendões flexores, que são os tendões, no lado da palma, que permitem que os dedos se dobrem. Além da falta de terapia adequada no prazo necessário, a genética também pode ter contribuído, já que algumas pessoas criam fibroses com mais facilidade que outras.
Em outubro, me submeti a uma tenólise dos flexores, na qual Edwards liberou meus tendões. No dia seguinte à cirurgia, iniciei a fisioterapia. No começo deste mês, completei o tratamento. Meu dedo agora se dobra com facilidade, e a mão recuperou a sua força habitual. De quebra, o humilde mindinho conquistou o meu respeito.


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