São Paulo, segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

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Audição de jovens sofre agressão diária

Jane E. Brody
ENSAIO


Michael ficou viciado em fones de ouvido no começo da adolescência. Dia após dia, andava pelas ruas do Brooklyn, Nova York, com suas músicas favoritas a todo volume. Aos 20 e poucos anos, as células ciliadas do seu ouvido interno haviam sido permanentemente danificadas, e Michael perdera grande parte da sensibilidade a freqüências agudas.
O Instituto da Audição Infantil relata que a perda de audição entre crianças e jovens está crescendo nos Estados Unidos, e que um terço dos danos é provocado pelo barulho. Segundo a Academia Americana de Audiologia, cerca de uma em cada oito crianças sofre de perda de audição provocada por excesso de ruído. São cerca de 5 milhões de crianças, afetadas por uma deficiência que as acompanhará por toda a vida.
A Academia lançou uma campanha de conscientização contra esse problema, habitualmente só diagnosticado quando a criança se queixa de um zumbido persistente ou demonstra problemas de compreensão e aprendizado, por causa da dificuldade em entender a fala.
Nosso mundo é barulhento. Jovens e velhos são importunados por sons sobre os quais têm pouco ou nenhum controle: buzinas, cortadores de grama, aspiradores de pó, alarmes de carro, alarmes de casa, sirenes, motos, até os trailers de cinema. Sempre que você precisa gritar para que alguém ao seu lado lhe ouça, é porque provavelmente sua audição está sob um nível perigoso de decibéis.
Como se o ruído ambiental não bastasse, agora cercamos as crianças de brinquedos barulhentos e de aparelhos de som pessoais que podem danificar permanentemente a audição. Brinquedos aprovados sob as regras de segurança da Sociedade Americana para Testes e Materiais produzem sons de até 138 decibéis, equivalente a um jato decolando. A partir de 85 decibéis, é obrigatório o uso de protetores auditivos em locais de trabalho.
A perda auditiva provocada pelo ruído pode surgir de duas formas: com a rápida exposição a um som muito intenso ou com a exposição consistente a um volume moderado. Por isso há tanta preocupação com os efeitos de longo prazo dos tocadores de MP3 colocados num volume suficiente para se sobrepor ao barulho da rua. Um tocador desses produz cerca de 105 decibéis -muito mais do que os 85 decibéis a partir dos quais começam os danos (a intensidade do som se multiplica por 10 a cada 10 decibéis).
O Instituto Nacional para a Segurança e a Saúde Ocupacionais diz que bastam 89 segundos de exposição a 110 decibéis para que haja dano auditivo. Outro estudo diz que uma única exposição a mais de 140 decibéis -o limiar da dor- já causa danos.
Os novos fones por condução óssea, que são encaixados sobre as orelhas e transmitem o som pelo crânio até o ouvido interno, podem não resolver o problema. Embora esses fones permitam ouvir um carro se aproximando ou uma pessoa falando, a tendência dos usuários é aumentar o volume para abafar o som ambiente, danificando as 15 mil minúsculas células ciliadas do ouvido interno, que transferem a energia sonora para o cérebro. Os danos a essas células irreparáveis e insubstituíveis dificultam a audição de sons agudos -inclusive a fala humana, especialmente de mulheres e crianças.
Antes de comprar brinquedos barulhentos, os pais fariam bem em ouvi-los. Se o produto vier com um seletor de volume, monitore seu uso para que sempre fique perto do mínimo. Considere a possibilidade de devolver presentes ruidosos ou desative a função sonora. Ou, ainda, restrinja o uso de brinquedos barulhentos a áreas externas.
A Liga dos Portadores de Dificuldades Auditivas dos EUA aconselha os pais a estimularem a participação em atividades silenciosas, como ler, ver filmes, montar quebra-cabeças, brincar com blocos de construção, jogar videogames educativos, pintar e ir a bibliotecas e museus.


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