São Paulo, segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

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Nova York

Fora de Wall Street, desemprego atinge classes profissionais

Por PATRICK McGEEHAN

Profissionais bem-remunerados como advogados, contadores e arquitetos estão entrando rapidamente nas crescentes listas de desempregados de Nova York. Os efeitos da crise financeira se estendem além de Wall Street, não apenas para outros setores de colarinho-branco, mas também para os de construção e varejo, conforme mostra um novo relatório.
O número de profissionais de fora da indústria financeira que estão recebendo seguro-desemprego cresceu mais de 40% em outubro, em comparação com o mesmo mês do ano passado, e o número de pessoas de instrução superior que estão recebendo benefícios aumentou 50%, segundo um levantamento do Instituto de Política Fiscal, grupo de pesquisa sem fins lucrativos.
"O desemprego está começando a disparar em Nova York e está afetando um espectro de trabalhadores profissionais e operários", disse James Parrott, principal economista do instituto e autor do relatório. "Está atingindo trabalhadores jovens e mais velhos e deverá crescer drasticamente nas próximas semanas e meses."
O relatório surge em meio às constantes más notícias no mercado financeiro. O Bank of America disse recentemente que planejava cortar de 30 mil a 35 mil cargos nos próximos três anos, enquanto digere sua aquisição da Merrill Lynch.
O relatório, com base em estatísticas de desemprego estaduais e federais, oferece dados que confirmam uma tendência que até agora era considerada episódica. Ele também mostrou que Nova York entrou em recessão muito depois que o restante do país, principalmente porque as contratações em firmas de advocacia e contabilidade, empresas de mídia e indústrias ligadas ao turismo continuaram fortes durante o primeiro semestre.
Ainda em julho, o número de novos pedidos de seguro-desemprego na cidade era apenas 10% maior que um ano antes. Mas desde que o emprego atingiu o pico, em agosto, a cidade perdeu cerca de 10 mil postos de trabalho. E nas 12 semanas entre o fim de agosto e o fim de novembro os pedidos de seguro-desemprego pela primeira vez aumentaram mais de 40% em relação ao mesmo período do ano anterior, o crescimento mais acentuado em um ano desde fevereiro de 2002.
Parrott afirmou que os números escondem a gravidade do desemprego porque muitos trabalhadores demitidos não começaram a receber os cheques e muitos outros não se qualificam para receber benefícios. Em outubro, menos de um terço dos 225 mil desempregados de Nova York recebiam benefícios, disse.
O índice de desemprego da cidade foi de 5,7% em outubro, contra 5,2% do mesmo mês em 2007. O índice nacional de desemprego foi de 6,5%, contra 4,8% no ano anterior.
O crescimento de desempregados com boa instrução em Nova York parece acompanhar a tendência do resto dos EUA, disse Lawrence Mishel, presidente do Instituto de Políticas Econômicas em Washington. Desde março de 2007, o número de pessoas com instrução superior desempregadas aumentou em um ritmo mais rápido -75%- que o número de todos os americanos desempregados com mais de 25 anos -62%-, ele disse.
"É uma evidência forte de que esta recessão está muito grave para os universitários, mais que o comum", disse Mishel. A organização dele trabalha com a de Parrott para promover os interesses de trabalhadores de baixa renda e sindicalizados.
Kenly Lambie, 29, arquiteta que vive no Brooklyn, foi demitida neste verão por uma firma onde trabalhou durante um ano. A demissão a pegou de surpresa, mas ela disse que outras firmas também demitiram porque empréstimos para construções secaram.
"A coisa está realmente triste, e quase todo mundo que eu conheço que estava no meu nível está desempregado", disse Lambie. Ela espera ser contratada por outra firma na cidade, mas acrescentou: "Se surgisse uma oportunidade realmente interessante, por exemplo, na Argentina, eu embarcaria".
Enquanto isso, Lambie tenta viver com um seguro-desemprego semanal de US$ 405, que segundo ela "definitivamente não é suficiente".
Nem todos os desempregados têm histórias tristes. Lynne Figman, uma advogada do ramo imobiliário, só teve cinco minutos para limpar sua mesa na Phillips Nizer quando foi demitida, em 5 de novembro. Seu chefe disse que a demissão era porque a firma esperava que "os negócios despencassem no próximo ano", ela disse.
Mas Figman, que está recebendo seguro-desemprego, já começou a montar seu próprio escritório em seu apartamento em Manhattan e espera ter uma lista saudável de pequenas empresas e proprietários de imóveis como clientes.
Em 14 dezembro ela fez 50 anos. Alguns dias antes do aniversário, disse: "Ainda quero festejar. Meus pais insistem".


Colaborou Christine Haughney


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